São Paulo, domingo, 22 de abril de 2007

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

A violência no campo

DOIS ARTIGOS chamaram a minha atenção sobre a situação da agricultura brasileira. Um reafirmando a competência e a grande capacidade de trabalho dos produtores brasileiros. O outro prevendo a instalação de uma verdadeira conspiração social contra esses mesmos produtores.
O primeiro artigo registra que, depois de sofrer crises e mais crises em decorrência de um aumento espantoso das dívidas e de problemas de comercialização, os agricultores souberam aproveitar de maneira inteligente uma conjugação de fatores que vai produzir em 2007 a maior safra agrícola de todos os tempos. São eles a redução dos preços dos insumos, em especial dos fertilizantes e defensivos agrícolas -em decorrência da apreciação do real-, e a forte elevação dos preços de grãos no mercado internacional (de meados de 2006 até o momento), em especial do milho, da soja e do trigo -por força do aumento da demanda e da esperança depositada nos biocombustíveis (Fernando Homem de Melo, "Início de um novo ciclo de crescimento agrícola?", "Informações Fipe", março de 2007).
Os produtores deram um verdadeiro show de agilidade e competência. Respondendo prontamente aos estímulos, procuraram compensar o desastre do câmbio. O segundo artigo também comemora a garra e a eficiência dos nossos agricultores, que produzirão em 2007 uma safra de grãos colossal e recorde de 134 milhões de toneladas. Tudo seria motivo de festa não fosse o que se antevê para o futuro.
Esses mesmos produtores que não temem o trabalho e sabem produzir dentro dos melhores padrões de eficiência simplesmente perderam o sossego: o crime e a violência invadiram o campo, materializados nos assaltos às fazendas e nos roubos de carga e de equipamento, sem falar no desrespeito ao direito de propriedade, que nossas autoridades, com raras exceções, já aceitam como rotina (Marcos Jank e André Pessoa, "Medindo a safra brasileira", "Estado", 18/4/2007).
Se, de um lado, entramos em um novo ciclo econômico na agricultura brasileira, de outro fechamos um ciclo de paz, quando os agricultores podiam trabalhar com tranqüilidade e concentrados apenas nos problemas da produção e da comercialização.
Os citados autores apontam ainda a terrível falta de mão-de-obra no campo em decorrência de trabalhadores que rejeitam o registro na carteira de trabalho por medo de perder o Bolsa Família e outros benefícios.
Há alguma ligação entre o inusitado repúdio ao trabalho legal e a explosão do crime e da violência no campo? Deixo essa pergunta para meditação do prezado leitor.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br


ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos domingos nesta coluna.


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