|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
A violência
no campo
DOIS ARTIGOS chamaram a
minha atenção sobre a situação da agricultura brasileira. Um reafirmando a competência e a grande capacidade de trabalho dos produtores brasileiros. O outro prevendo a instalação
de uma verdadeira conspiração
social contra esses mesmos produtores.
O primeiro artigo registra que,
depois de sofrer crises e mais crises
em decorrência de um aumento espantoso das dívidas e de problemas
de comercialização, os agricultores
souberam aproveitar de maneira
inteligente uma conjugação de fatores que vai produzir em 2007 a
maior safra agrícola de todos os
tempos. São eles a redução dos preços dos insumos, em especial dos
fertilizantes e defensivos agrícolas
-em decorrência da apreciação do
real-, e a forte elevação dos preços
de grãos no mercado internacional
(de meados de 2006 até o momento), em especial do milho, da soja e
do trigo -por força do aumento da
demanda e da esperança depositada nos biocombustíveis (Fernando
Homem de Melo, "Início de um novo ciclo de crescimento agrícola?",
"Informações Fipe", março de 2007).
Os produtores deram um verdadeiro show de agilidade e competência. Respondendo prontamente
aos estímulos, procuraram compensar o desastre do câmbio.
O segundo artigo também comemora a garra e a eficiência dos nossos agricultores, que produzirão
em 2007 uma safra de grãos colossal e recorde de 134 milhões de toneladas.
Tudo seria motivo de festa não
fosse o que se antevê para o futuro.
Esses mesmos produtores que não
temem o trabalho e sabem produzir dentro dos melhores padrões de
eficiência simplesmente perderam
o sossego: o crime e a violência invadiram o campo, materializados
nos assaltos às fazendas e nos roubos de carga e de equipamento,
sem falar no desrespeito ao direito
de propriedade, que nossas autoridades, com raras exceções, já aceitam como rotina (Marcos Jank e
André Pessoa, "Medindo a safra
brasileira", "Estado", 18/4/2007).
Se, de um lado, entramos em um
novo ciclo econômico na agricultura brasileira, de outro fechamos
um ciclo de paz, quando os agricultores podiam trabalhar com tranqüilidade e concentrados apenas
nos problemas da produção e da
comercialização.
Os citados autores apontam ainda a terrível falta de mão-de-obra
no campo em decorrência de trabalhadores que rejeitam o registro
na carteira de trabalho por medo
de perder o Bolsa Família e outros
benefícios.
Há alguma ligação entre o inusitado repúdio ao trabalho legal e a
explosão do crime e da violência no
campo? Deixo essa pergunta para
meditação do prezado leitor.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos
domingos nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Machismo Próximo Texto: Frases
Índice
|