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Balanço transparente
Agências reguladoras, acionistas e credores precisam conhecer o que ocorre nas finanças de empresas brasileiras
A CRISE colocou na ordem do dia a necessidade de aperfeiçoamentos na regulação e
supervisão dos sistemas financeiros mundiais.
No Brasil, os elevados prejuízos de empresas em operações
com derivativos de câmbio revelaram fragilidades no controle
doméstico. Pesquisas sobre as
companhias com ações negociadas na Bovespa -como a realizada pelo Grupo de Conjuntura da
Fundap e divulgada por esta Folha- mostraram que o setor industrial registrou uma brutal variação em suas transações financeiras. Em 2007, houve receitas
financeiras no valor de R$ 386
milhões. Em 2008, as despesas
financeiras superaram as receitas em R$ 38,2 bilhões.
Esse movimento não pode ser
explicado apenas pelas repercussões da desvalorização cambial
na estrutura de financiamento
das empresas -o que todas as
empresas com dívida em dólar
enfrentaram. Os vultosos prejuízos em alguns segmentos -como alimentos, papel e celulose e
química- foram determinados,
sobretudo, por apostas feitas na
valorização do real em operações
em mercados futuros de câmbio.
A julgar pela surpresa desencadeada pela divulgação dos prejuízos, nem os acionistas nem os
órgãos reguladores tinham conhecimento desses complexos
contratos de derivativos.
Em resposta, a Comissão de
Valores Mobiliários determinou
que as companhias abertas deveriam divulgar, em nota explicativa específica, informações sobre
todos os seus derivativos financeiros. Foi uma decisão importante, mas insuficiente. Muitas
empresas envolvidas são de capital fechado -e permanecem ao
abrigo dessa norma.
Pelas regras em vigor, toda
operação com derivativos não
negociados em Bolsa deve ser registrada na Cetip, a administradora dessa classe de transações,
conhecida como "de balcão".
Embora se possa conhecer o
montante das operações, é impossível determinar qual a aposta de cada agente. Não se sabe,
por exemplo, quem vai ganhar
ou perder -e quanto- se o dólar
passar de determinada cotação.
Além disso, algumas operações, a despeito de registradas na
Cetip, eram parcialmente realizadas em paraísos fiscais, dificultando ainda mais sua decifração.
Autoridades reguladoras, acionistas e credores precisam conhecer o que está ocorrendo nas
finanças das corporações brasileiras. Reafirmar tal truísmo é
crucial, pois reformas espinhosas como essa, que afetam lobbies financeiros, tendem a ser esquecidas uma vez superado o
momento mais agudo da crise.
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