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FERNANDO RODRIGUES
A saída é mais transparência
BRASÍLIA - A fórmula para estancar a onda de desvios éticos no Congresso é dar transparência total a todos os gastos do Poder Legislativo. Imediatamente. Até porque vai
demorar até novas regras entrarem
em vigor, com o eventual fim das
verbas indenizatórias.
Se um deputado souber que a
passagem aérea para Miami de sua
namorada estará visível na internet, certamente pensará duas vezes
antes de espetar a conta no Congresso. Com tudo aberto, o senador
habituado a fretar jatinhos também
ficará constrangido ao mandar a
nota fiscal para ser paga com dinheiro público. Empregadas domésticas recebendo pela Câmara
passarão a ser mais raras.
Enfim, nessas horas, a luz do Sol é
o melhor desinfetante -como sintetizou em 1913 Louis Brandeis
(1856-1941), juiz da Suprema Corte
dos EUA. Quando o problema é a
transparência, a solução é haver
ainda mais transparência.
É igualmente desejável haver regras mais rígidas. O uso de verbas
no exercício do mandato deve ser
mais controlado. Mas nenhuma
proibição ou norma terá tanto efeito quanto deixar tudo aberto, diariamente, na internet.
O presidente da Câmara, Michel
Temer (PMDB-SP), parece ter
acordado para essa saída óbvia. Deu
indicações de caminhar nessa direção ainda nesta semana. Do Senado
não se ouve palavra, numa atitude
típica de uma Casa legislativa arrogante, desconectada da vida real e
rumo à insignificância.
Seria ingênuo vincular o anúncio
de mais transparência a uma abertura total das contas. Com essa turma, é melhor esperar para ver -inclusive porque há a proposta disparatada de aumentar salários em troca da divulgação dos dados. Se, por
um milagre, prevalecer o bom senso, e o fim da opacidade vier de graça para a sociedade, os deputados
poderão talvez recuperar uma parte do prestígio perdido.
frodriguesbsb@uol.com.br
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