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ELIANE CANTANHÊDE
Esperança, a última que morre
BRASÍLIA - De Juscelino Kubitschek, na inauguração de Brasília,
em 21 de abril de 1960: "Pesou, sobretudo, em meu ânimo, a certeza
de que era chegado o momento de
estabelecer o equilíbrio do país,
promover o seu progresso harmônico, prevenir o perigo de uma
excessiva desigualdade no desenvolvimento das diversas regiões
brasileiras, forçando o ritmo de
nossa interiorização".
O Brasil era um país "oco", envolvido por um enorme litoral, onde
pipocavam cidades, progresso e
crescentes dramas urbanos. Brasília não resolveu, mas foi um bom
passo para a previsão de JK de melhor equilíbrio e interiorização.
Como estariam, por exemplo,
Goiás e os dois Mato Grosso sem a
ousadia de JK e sem a prioridade ao
agronegócio a partir dos anos 1970?
E a integração entre as regiões? E
entre os brasileiros?
Passaram-se 50 anos e ainda há
quem lamente a mudança da capital, como se Brasília fosse um peso e
o escândalo Arruda fosse único e
exclusivo, não uma doença que assola o país. Sem Brasília, o Rio seria
uma capital de paz, de ética, de justiça? O país estaria uma beleza?
Depois desse meio século, o Rio
tem o dobro de funcionários federais civis de Brasília (114.739 contra
61.698, conforme a Folha de ontem). Imagine como seria a "Cidade
Maravilhosa" sem a "Capital da Esperança", acumulando os problemas intrínsecos à política e à administração federais com uma geografia picotada por morros e com a patologia urbana das favelas, do tráfico de drogas, de policiais e bicheiros que se matam à luz do dia.
Brasília é uma cidade linda, solar,
cheia de jardins... e cercada de pobreza. Como são a zona sul do Rio e
os centros ricos de São Paulo, de
Fortaleza, de Porto Alegre. Não
adianta demonizar a capital de JK,
que simboliza vanguarda, progresso e esperança (a última que morre...) em desenvolvimento com democracia. Os problemas de Brasília
não são de Brasília; são do Brasil.
elianec@uol.com.br
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