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CARLOS HEITOR CONY
Melancolia de um carioca
RIO DE JANEIRO - Os 50 anos de
Brasília abafaram outro acontecimento histórico, que não foi lembrado nem comentado: a criação do
Estado da Guanabara. Sua vida
curta ainda não foi devidamente estudada, mas quem viveu aquele
tempo tem não apenas saudade
mas certa irritação pelo fato de os
militares terem acabado com ele,
promovendo a fusão com o antigo
Estado do Rio .
O único defeito do natimorto Estado da Guanabara foi que nos tornou, nós, os cariocas, guanabarinos.
Fora isso, foram poucos anos em
que as coisas funcionaram muito
bem para nossos lados. Tivemos
dois governadores-prefeitos de dar
inveja aos demais: apesar de inimigos ferozes um do outro, Carlos Lacerda e Negrão de Lima foram de
longe os melhores e maiores administradores da cidade-Estado.
Havia razão para isso. A Guanabara ficava com os impostos municipais e estaduais -fazendo caixa
único, houve recursos e mentalidade para grandes obras. A ajuda federal foi fracionada e formal. Não contou realmente para as grandes
transformações que se seguiram:
túneis,viadutos, abastecimento de
água, aterros,investimentos na infraestrutura.
Politicamente, o novo Estado
marcava-se pela independência em
relação ao poder central, daí a necessidade do regime militar de acabar com aquele foco de resistência.
A fusão até hoje é chorada pelos cariocas, não por menosprezo a seus
vizinhos fluminenses. O carioca
Machado de Assis, que viveu antes
de tudo isso, dizia com orgulho:
"Afinal, somos todos fluminenses".
Em termos de futebol, até hoje sou
Fluminense.
Aqueles que viveram o breve
tempo da Guanabara têm saudade.
Meu irmão guardou até a morte a
placa do seu carro, um valente Fusca verde-amazonas, com as iniciais
GB: fomos felizes e sabíamos que
éramos felizes.
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