São Paulo, terça-feira, 22 de maio de 2001

Próximo Texto | Índice

NÓDOA CENTRAL

O socorro prestado pelo Banco Central às instituições financeiras Marka e FonteCindam após o abandono da âncora cambial, em janeiro de 1999, se mantém como um episódio grave e de pouca transparência. À época, o BC gastou US$ 1,6 bilhão de dinheiro público para evitar a quebra desses dois bancos privados que, ao contrário da grande maioria, ainda mantinham sua aposta num real sobrevalorizado.
Em sua mais recente edição, a revista "Veja" voltou ao assunto. Em resumo, diz a revista que o presidente do BC à época, o economista Francisco Lopes, manteria um esquema de venda de informações privilegiadas. Por deter supostas "fitas" que comprovariam esse crime, o banqueiro Salvatore Cacciola (Marka) teria obtido acesso à operação de salvamento, como contrapartida de seu silêncio. Ademais, autoridades do governo federal, importantes ministros inclusive, teriam atuado para que a suposta chantagem de Cacciola não viesse a público.
Não existem provas de que a versão sustentada pela revista seja verdadeira. No que se pode deduzir de algumas fontes nas quais se baseia, carece de credibilidade. O fato de que o Marka foi à bancarrota mesmo tendo seu proprietário acesso a informações privilegiadas tira boa parte da verossimilhança da história.
Nada disso exime as autoridades competentes da obrigação de apurar a veracidade dessas informações. Ainda que não sejam corretas, a essência da ajuda oferecida pelo BC continua sendo suspeita e, portanto, carece de explicações consistentes. É questionável a versão do ministro Pedro Malan, de que não teria tomado conhecimento do caso: como a principal autoridade da área econômica não ficou sabendo de uma operação para evitar um "risco sistêmico", a justificativa oficial para o salvamento? Mesmo tendo Malan estado com Francisco Lopes por mais de uma vez no dia em que o BC decidiu financiar o risco de dois bancos privados?
Esse é apenas um dos aspectos que demonstram que ainda há muito a esclarecer para saber o que ocorreu naquele conturbado dia de janeiro e, sobretudo, o porquê de aquela ajuda ter sido concedida. Assim, espera-se que os depoimentos prometidos para hoje no Senado de Pedro Malan e de Tereza Grossi, do setor de fiscalização do BC, contribuam para dar ao episódio a necessária transparência.


Próximo Texto: Editoriais: O BNDES E A CRISE
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.