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NÓDOA CENTRAL
O socorro prestado pelo Banco Central às instituições financeiras Marka e FonteCindam
após o abandono da âncora cambial,
em janeiro de 1999, se mantém como
um episódio grave e de pouca transparência. À época, o BC gastou US$
1,6 bilhão de dinheiro público para
evitar a quebra desses dois bancos
privados que, ao contrário da grande
maioria, ainda mantinham sua aposta num real sobrevalorizado.
Em sua mais recente edição, a revista "Veja" voltou ao assunto. Em
resumo, diz a revista que o presidente do BC à época, o economista Francisco Lopes, manteria um esquema
de venda de informações privilegiadas. Por deter supostas "fitas" que
comprovariam esse crime, o banqueiro Salvatore Cacciola (Marka) teria obtido acesso à operação de salvamento, como contrapartida de seu
silêncio. Ademais, autoridades do
governo federal, importantes ministros inclusive, teriam atuado para
que a suposta chantagem de Cacciola não viesse a público.
Não existem provas de que a versão
sustentada pela revista seja verdadeira. No que se pode deduzir de algumas fontes nas quais se baseia, carece de credibilidade. O fato de que o
Marka foi à bancarrota mesmo tendo
seu proprietário acesso a informações privilegiadas tira boa parte da
verossimilhança da história.
Nada disso exime as autoridades
competentes da obrigação de apurar
a veracidade dessas informações.
Ainda que não sejam corretas, a essência da ajuda oferecida pelo BC
continua sendo suspeita e, portanto,
carece de explicações consistentes. É
questionável a versão do ministro Pedro Malan, de que não teria tomado
conhecimento do caso: como a principal autoridade da área econômica
não ficou sabendo de uma operação
para evitar um "risco sistêmico", a
justificativa oficial para o salvamento? Mesmo tendo Malan estado com
Francisco Lopes por mais de uma vez
no dia em que o BC decidiu financiar
o risco de dois bancos privados?
Esse é apenas um dos aspectos que
demonstram que ainda há muito a
esclarecer para saber o que ocorreu
naquele conturbado dia de janeiro e,
sobretudo, o porquê de aquela ajuda
ter sido concedida. Assim, espera-se
que os depoimentos prometidos para hoje no Senado de Pedro Malan e
de Tereza Grossi, do setor de fiscalização do BC, contribuam para dar ao
episódio a necessária transparência.
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