|
Próximo Texto | Índice
OPORTUNIDADE PERDIDA
Pelo terceiro mês consecutivo, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom)
manteve a taxa de juro básica em
26,5% ao ano. O excesso de prudência impediu o aproveitamento de
uma "janela de oportunidade"
-aberta por diferentes indicadores- para sinalizar uma redução nas
taxas de juros.
Não apenas os diversos índices de
inflação demonstram nítida tendência de queda como os demais sinais
da economia são enfáticos quanto à
conveniência de que se mude a rota
da taxa básica. A produção industrial
cai, as vendas no varejo declinam, a
renda dos trabalhadores se contrai, o
desemprego cresce e a taxa de juro
média efetivamente paga por empresas atingiu, no mês de março, exorbitantes 37,9% ao ano, segundo dados do próprio BC.
Não parece haver no horizonte previsível risco de descontrole nos preços, mas de contração da economia.
Como esta Folha alertou em editorial
no último domingo, a exacerbação
da ortodoxia vai alimentando graves
dúvidas sobre as perspectivas de retomada do crescimento.
Por que o Copom não utilizou essa
"janela de oportunidade"? Em princípio, as decisões de política monetária deveriam estar relacionadas com
as expectativas sobre o futuro, vale
dizer, com a definição de uma taxa
de juros real capaz de remunerar os
capitais acima da taxa de inflação esperada, dentro de limites razoáveis.
Como as expectativas de inflação futura caíram para 8,5% em maio de
2004, a manutenção dos juros básicos garante uma taxa de juros real,
descontada a inflação, em torno de
18% ao ano -cifra que se eleva absurdamente quando se consideram
os valores praticados no mercado.
Tecnicamente, portanto, a taxa de juro básica já deveria ter sido reduzida.
A política monetária, porém, não é
meramente técnica. Parece ter prevalecido o excesso de zelo do BC. A autoridade monetária assumiu, assim,
o risco de tornar-se, desnecessariamente, refém do conservadorismo e
de agravar o quadro, já insuportável,
de restrição econômica.
Próximo Texto: Editoriais: CHANTAGEM NO FUTEBOL Índice
|