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Editoriais
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Aritmética prisional
O Estado de São Paulo
"ganha" 840 presos
mensais; para abrigá-los,
seria necessário construir
um novo presídio por mês
SE O SURGIMENTO do crime
organizado dentro dos
presídios está ligado à superpopulação carcerária,
como sugerem alguns especialistas, o Estado de São Paulo tem
um grande desafio pela frente.
Diga-se, em favor dos sucessivos governos paulistas, que o Estado é um dos poucos, senão o
único, em que o sistema funciona, ainda que precariamente.
Dos 361 mil presos no Brasil (dados de dez/05),142 mil (40%) estão em São Paulo.
De acordo com a Fundação de
Amparo ao Preso (Funap), do governo do Estado, cerca de 4.900
detentos entram, a cada 30 dias,
no sistema prisional e dele saem
4.060. Apenas para abrigar o "ganho líquido" de 840 presos mensais, seria necessário construir
um presídio por mês, a um custo
médio de R$ 15 milhões. É uma
tarefa difícil, mas não impossível. As cifras são elevadas, mas
não de todo incompatíveis com o
orçamento anual do sistema prisional do Estado, que tem sido da
ordem de R$ 1,1 bilhão.
O maior problema nessa contabilidade é que o total de novos
encarceramentos -os 840 presos mensais- é um número certamente subdimensionado se o
sistema de punição a delitos fosse mais próximo do ideal no Estado de São Paulo. Especialistas
são unânimes em afirmar que
uma redução consistente da criminalidade passa por uma polícia e um Judiciário mais eficientes, capazes de solucionar mais
delitos, identificar seus autores e
condená-los na forma da lei.
É difícil discordar desse diagnóstico. Dentre as múltiplas causas do crime, a impunidade é
uma das mais poderosas. E a ineficiência da polícia faz com que,
numa análise puramente probabilística, valha a pena delinqüir.
Pesquisa encomendada pelo Ministério Público de São Paulo
mostra que a corporação paulistana soluciona apenas 20% dos
homicídios registrados nas delegacias da capital. A título de comparação, nos Estados Unidos, de
cada três assassinatos, em média
dois são solucionados pelas forças polícias.
Se tivéssemos uma polícia e
um Poder Judiciário mais eficientes -como se espera que
ocorra-, a cifra de 890 novos
presos por mês que são absorvidos pelo sistema prisional seria
multiplicada várias vezes.
Podemos e devemos tentar aumentar as chamadas penas alternativas. Existe espaço para fazê-lo. Segundo dados do Censo Penitenciário, que foi realizado em
2002, se tirássemos da cadeia e
puníssemos com multas e prestação de serviços condenados
por furto, porte irregular de arma, receptação, porte de droga e
estelionato, o resultado líquido
seria a liberação de uma em cada
quatro das vagas do sistema.
Não existem receitas mágicas
para resolver o problema da segurança. O mais importante é
conseguir solucionar mais crimes e punir seus autores. Isso vai
exigir investimentos na polícia,
na Justiça e na construção de
mais e melhores presídios, bem
como algumas adaptações legais
e, principalmente, na mentalidade dos juízes, muitos dos quais
ainda relutam em adotar as penas alternativas.
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