São Paulo, terça-feira, 22 de maio de 2007

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No fio da navalha

Há mórbida semelhança entre o atual escândalo e a farra dos sanguessugas, com a agravante de que há mais dinheiro em jogo

FICOU seriamente comprometida a sustentação política do ministro Silas Rondeau, acusado no âmbito da Operação Navalha. Não se trata de condenar de antemão o titular de Minas e Energia. Caberá aos órgãos competentes dar prosseguimento às investigações e à Justiça decidir sobre as eventuais denúncias formuladas contra o ministro, cuja situação no governo permanecia indefinida até o fechamento desta edição.
No Estado de Direito -é bom repetir-, qualquer julgamento não pode, por definição, estar subordinado ao calor dos escândalos ou relacionado à variação de humores da opinião pública.
Não obstante isso, após as revelações do fim de semana ficou muito difícil compatibilizar a permanência do ministro no governo e os requisitos esperados de quem exerce tão importante função. De resto, parece razoável supor que Rondeau, que se diz vítima de "horrível pré-julgamento", poderá defender-se melhor fora do ministério.
Recapitulemos: conforme esta Folha noticiou anteontem, a PF suspeita que o titular de Minas e Energia tenha sido beneficiado com propina de R$ 100 mil em troca de favorecimento à empreiteira Gautama na instalação de uma das etapas, no Piauí, do programa federal Luz Para Todos, a cargo do seu ministério.
Interceptações telefônicas feitas pela PF e imagens do circuito interno do prédio de Minas e Energia gravadas em março deste ano, já de conhecimento público, compõem um conjunto de indícios bastante convincente -usado também para embasar o pedido de prisão preventiva do ex-assessor especial de Rondeau, Ivo Almeida Costa.
O escopo da Operação Navalha, porém, vai muito além de Minas e Energia, pasta essencial na implantação do PAC. Sabe-se até agora que as ligações promíscuas e alegadamente ilícitas da Gautama com os agentes da administração pública atingem, com diferentes suspeitas e em diversos graus, pelo menos quatro governadores: Teotônio Vilela Filho (PSDB), de Alagoas, e Jackson Lago (PDT), do Maranhão, e os ex-governadores José Reinaldo Tavares (PSB), também do Maranhão, e João Alves Filho (DEM), de Sergipe.
Chama atenção, além disso, a composição partidária, muito variada, do elenco de suspeitos. Praticamente todas as legendas políticas mais representativas do país estão contempladas pela Operação Navalha. Há, aqui, uma mórbida semelhança com a farra dos sanguessugas, com a agravante de que, desta vez, as acusações envolvem recursos mais volumosos e implicam mais instâncias da administração e esferas de poder.
No Congresso, pelo menos por ora, é tímido o movimento pela instalação de uma CPI da Navalha. A omissão sintomática de parlamentares, na oposição e no campo governista, é indicativa de que muita gente ainda pode ser atingida com o aprofundamento das investigações.
Não é outra, porém, a expectativa da opinião pública, que deve, mais do que nunca, exigir das autoridades serenidade e firmeza para cortar na própria carne.


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