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No fio da navalha
Há mórbida semelhança entre o atual escândalo e a farra dos sanguessugas, com a agravante de que há mais dinheiro em jogo
FICOU seriamente comprometida a sustentação política do ministro Silas
Rondeau, acusado no âmbito da Operação Navalha. Não
se trata de condenar de antemão
o titular de Minas e Energia. Caberá aos órgãos competentes dar
prosseguimento às investigações
e à Justiça decidir sobre as eventuais denúncias formuladas contra o ministro, cuja situação no
governo permanecia indefinida
até o fechamento desta edição.
No Estado de Direito -é bom
repetir-, qualquer julgamento
não pode, por definição, estar subordinado ao calor dos escândalos ou relacionado à variação de
humores da opinião pública.
Não obstante isso, após as revelações do fim de semana ficou
muito difícil compatibilizar a
permanência do ministro no governo e os requisitos esperados
de quem exerce tão importante
função. De resto, parece razoável
supor que Rondeau, que se diz vítima de "horrível pré-julgamento", poderá defender-se melhor
fora do ministério.
Recapitulemos: conforme esta
Folha noticiou anteontem, a PF
suspeita que o titular de Minas e
Energia tenha sido beneficiado
com propina de R$ 100 mil em
troca de favorecimento à empreiteira Gautama na instalação
de uma das etapas, no Piauí, do
programa federal Luz Para Todos, a cargo do seu ministério.
Interceptações telefônicas feitas pela PF e imagens do circuito
interno do prédio de Minas e
Energia gravadas em março deste ano, já de conhecimento público, compõem um conjunto de
indícios bastante convincente
-usado também para embasar o
pedido de prisão preventiva do
ex-assessor especial de Rondeau,
Ivo Almeida Costa.
O escopo da Operação Navalha, porém, vai muito além de
Minas e Energia, pasta essencial
na implantação do PAC. Sabe-se
até agora que as ligações promíscuas e alegadamente ilícitas da
Gautama com os agentes da administração pública atingem,
com diferentes suspeitas e em
diversos graus, pelo menos quatro governadores: Teotônio Vilela Filho (PSDB), de Alagoas, e
Jackson Lago (PDT), do Maranhão, e os ex-governadores José
Reinaldo Tavares (PSB), também do Maranhão, e João Alves
Filho (DEM), de Sergipe.
Chama atenção, além disso, a
composição partidária, muito
variada, do elenco de suspeitos.
Praticamente todas as legendas
políticas mais representativas do
país estão contempladas pela
Operação Navalha. Há, aqui,
uma mórbida semelhança com a
farra dos sanguessugas, com a
agravante de que, desta vez, as
acusações envolvem recursos
mais volumosos e implicam mais
instâncias da administração e esferas de poder.
No Congresso, pelo menos por
ora, é tímido o movimento pela
instalação de uma CPI da Navalha. A omissão sintomática de
parlamentares, na oposição e no
campo governista, é indicativa
de que muita gente ainda pode
ser atingida com o aprofundamento das investigações.
Não é outra, porém, a expectativa da opinião pública, que deve,
mais do que nunca, exigir das autoridades serenidade e firmeza
para cortar na própria carne.
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