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Na contramão
DESDE ONTEM são inválidas
as multas por excesso de
velocidade aplicadas a
veículos por radares "escondidos". A decisão do Conselho Nacional de Trânsito (Contran),
que obriga as autoridades locais
a alertar o motorista para a presença da fiscalização eletrônica,
tem algo de esdrúxulo.
Na prática, é como se mandasse instalar uma placa com os dizeres "neste trecho, respeite a
lei" e, passado o detector, outra
mensagem anunciasse "agora, já
pode voltar a ignorá-la", pois é
exatamente isso, infelizmente, o
que faz parte dos condutores.
A iniciativa do Contran vai na
contramão da lógica e do bom
senso. Se é principalmente o temor de ser multado que faz o
motorista respeitar os limites de
velocidade, nada melhor do que
mantê-lo na incerteza sobre onde estão instalados os aparelhos.
Neste caso, sua tendência é circular em velocidades mais baixas
em toda a via, não apenas nos
trechos marcados como sujeitos
à fiscalização eletrônica.
Compreende-se e louva-se o
esforço do Contran para tentar
coibir a verdadeira indústria de
multas em que alguns municípios converteram a legislação de
trânsito, mas tal combate não
justifica abrir mão de uma utilização racional dos radares, que
são, ao lado da obrigatoriedade
do cinto de segurança, uma das
mais eficazes ferramentas de redução de mortes no trânsito.
O país vive um momento delicado em relação a esse tipo de
óbito. O número de mortes em
acidentes voltou a aumentar. Em
2004, retornou ao patamar de 35
mil ao ano, igual ao nível de 1997,
antes da introdução do novo Código Brasileiro de Trânsito.
O diploma é apontado como o
responsável pela queda de quase
20% desses óbitos entre 1998 e
2000. Embora a frota de veículos
também cresça, desde então esse
tipo de morte vem aumentando
em média 4,8% ao ano. É hora de
intensificar os esforços para controle de velocidade, não de relaxar na prevenção de acidentes.
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