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CARLOS HEITOR CONY
Heróis de ontem e de hoje
RIO DE JANEIRO - Ao lado de
Vladimir Palmeira e do professor
de filosofia Paulo Oneto, participei
de um debate na PUC-RJ promovido por Anna Lee e subordinado ao
tema: "Olhares sobre Maio de 68".
Procuramos dar os nossos recados
para uma platéia de universitários,
e um deles nos perguntou se não
haveria uma inexplicável nostalgia
daquele tempo.
De minha parte, respondi que
não. Mas admiti que se instalara,
nas gerações que não viveram aquele período, não apenas uma nostalgia mas um desejo de aventura existencial equivalente, no passado,
àquele dos que procuravam a Legião Estrangeira para fugir da monotonia de tempos menos heróicos.
Ou, em escala mais politizada, iam
lutar na Guerra Civil da Espanha.
Lá atrás, muito atrás, os cruzados,
que iam resgatar os lugares sagrados do cristianismo.
Os tempos são outros e não estimulam atos heróicos -sejam quais
forem as causas em conflito. A cabeça das novas gerações está voltada para temas mais prosaicos.
Tirante a defesa do meio ambiente, que já produziu alguns heróis individuais, como Chico Mendes,
grande parte da energia jovem foi
canalizada para a expressão de um
tipo de comportamento, pessoal ou
coletivo, que contesta a sociedade,
os valores estabelecidos, a moral
conservadora.
O instrumento mais usado para
exprimir esta agenda, até certo
ponto revolucionária, são as numerosas bandas que se formam, sucedendo-se umas às outras na preferência do eleitorado. Participar de
um megasshow incrementado pode
equivaler, para a platéia de hoje, à
passeata de ontem.
Daqui a alguns anos, quando os
valores mudarem, haverá gente que
terá nostalgia do tempo em que se
pedia ao Brasil que mostrasse a sua
cara. Cada geração tem a luta que
merece.
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