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Editoriais
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Casuísmos sem fim
Incertezas sobre o quadro sucessório reavivam teses inaceitáveis de modificação do calendário eleitoral
MISTURAR questões
de saúde com a sucessão presidencial,
como disse a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff,
é atitude de mau gosto.
Mais do que de mau gosto, são
de um primarismo extremo as
movimentações políticas de algumas lideranças, desde a divulgação da notícia de que a virtual
candidata ao Planalto, tirada do
bolso do colete pelo presidente
da República, passa por tratamento médico.
Retomam-se as especulações e
as iniciativas em torno de uma
terceira candidatura consecutiva para o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva.
Projeto de emenda constitucional pela nova reeleição já contaria, segundo o deputado Jackson Barreto (PMDB-SE), com
178 assinaturas na Câmara. Seu
colega Nilson Mourão (PT-AC)
expõe de forma lapidar o oportunismo da estratégia: "Se Dilma
tiver qualquer dificuldade, essa
emenda tem grande chance".
Para revestir a manobra de suposta legitimidade, seus defensores preveem que a emenda da
reeleição (a valer também para
governadores e prefeitos) terá de
ser sancionada por um referendo
popular, ainda em 2009.
Mas a confirmação dos índices
de popularidade de um presidente, que referendos desse tipo tendem a refletir, em nada se confunde com a prática institucional
de qualquer democracia digna
desse nome.
Trata-se de assegurar um mínimo de alternância no poder, de
respeitar as regras básicas do jogo político e de evitar que ele se
torne refém da figura providencial de líderes personalistas.
Ainda que nos escalões superiores do governismo seja incerta a receptividade da tese do
eventual terceiro mandato, a
temporada de invencionices, de
fórmulas salvadoras e de casuísmos no sistema eleitoral parece
em pleno curso. Sua versão mais
bizarra foi apresentada ontem
por um deputado que não pertence ao baixo clero. O líder do
PR na Câmara, o deputado Sandro Mabel (GO), lançou a proposta de uma prorrogação geral
de mandatos até 2012.
Enquanto isso, outras fórmulas mágicas são imaginadas no
PSDB, de modo a acomodar suas
rivalidades internas na sucessão.
A ideia de um mandato de cinco
anos, sem reeleição, seria o meio
de assegurar ao governador de
Minas Gerais, Aécio Neves, seu
lugar na "fila" presidencial, dando ao paulista José Serra a precedência em 2010.
Ao sabor dos imprevistos e dos
nomes envolvidos, esse gênero
de discussões não tem data para
terminar. Problemas de saúde de
um possível candidato, acertos
internos num partido, graus de
popularidade e oportunismo de
um governante pertencem às
contingências, demasiado humanas, da atividade política.
Se há muito a aprimorar no sistema político brasileiro, certamente o calendário sucessório e
o dispositivo da reeleição não fazem parte do que interessa discutir. Que se cogite de mudá-los,
conforme a conveniência deste
ou daquele político, é um sinal de
imaturidade que não condiz com
o estado já alcançado pelas instituições do país, mais de 20 anos
após a Carta democrática.
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