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CLÓVIS ROSSI
O embaixador já não é "o cara"
SÃO PAULO - O que há de mais interessante na informação de que
Thomas Shannon será o novo embaixador norte-americano no Brasil é o fato de que não provoca a
menor emoção.
Sinal de que as relações Brasil/
Estados Unidos amadureceram o
suficiente para reduzir o peso do
embaixador para aperfeiçoá-las (ou
danificá-las, o que ocorria bem
mais raramente).
Na verdade, o amadurecimento
vem de algum tempo e apoia-se
também (ou principalmente, não
sei) na chamada diplomacia presidencial, ou seja, na ligação direta
entre os presidentes.
Ligação que foi ótima com Fernando Henrique Cardoso e Bill
Clinton, azedou algo com FHC/
George W. Bush, voltou a aprumar
com Bush e Luiz Inácio Lula da Silva e tende a ser ainda melhor com
Lula e Barack Obama.
Feita essa ressalva fundamental,
Shannon é uma indicação feliz.
Tem no currículo o mérito nada trivial de ter amortecido os ímpetos
belicistas da administração Bush
em relação a líderes latino-americanos da estirpe de Hugo Chávez.
Antes dele, cheguei a ouvir queixas de Otto Reich, um dos neocons
que assolou o governo Bush, sérias
restrições ao chanceler brasileiro
Celso Amorim por um suposto esquerdismo exagerado. Tudo bem
que os neocons brasileiros parecem
achar a mesma coisa, mas não é
sério, certo?
Se foi assim com um radical como
Bush, é razoável supor que Shannon seja o homem certo no lugar
certo para uma administração como a de Barack Obama, que troca o
confronto pelo diálogo até com os
antes inimigos e que se diz disposto
a aprender sobre uma região marginal nas prioridades dos EUA.
O Brasil é, hoje, o lugar certo para
esse aprendizado pelo papel de liderança que lhe é natural, mas que
hesitava antes em exercer mais
abertamente.
crossi@uol.com.br
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