|
Próximo Texto | Índice
Melhor assim
Vencida a tentativa de sepultar sem apuração o processo contra Renan Calheiros, é hora de esclarecer pendências
O CONSELHO de Ética livrou o Senado de um
vexame ao negar o arquivamento do processo contra o presidente da Casa, Renan Calheiros. A opção por
liquidar o caso num rápido lance
de camaradagem corporativa,
consagrada na chamada "operação epitáfio", parece ter soçobrado. Melhor assim.
Os senadores compreenderam
o óbvio -o que nem sempre
acontece- após uma série de fatos ter colocado em dúvida a defesa preliminar de Renan Calheiros. Ainda que os parlamentares
houvessem enterrado o processo
na quarta-feira, o caso teria seqüência autônoma na opinião
pública e nos meios de comunicação, apenas acrescentado de
uma dose cavalar de desgaste para a imagem do Senado Federal.
Evitada mais uma grande
afronta à sociedade, é preciso
agora que a Casa se dedique a esclarecer de vez a origem dos recursos com que o presidente do
Senado pagou pensão a uma filha. O assunto extrapola a esfera
da intimidade de Renan Calheiros, pois é fato, admitido pelo senador alagoano, que um lobista
de uma construtora de obras públicas intermediou pelo menos
parte dos pagamentos.
Ao presidente do Senado devem ser dadas todas as oportunidades de, em público, apresentar
uma peça de defesa que dirima as
questões em suspenso. Questões
como as confusas e bastante lucrativas negociações com gado e
a veloz evolução patrimonial
que, segundo o senador, lhe deram cacife financeiro suficiente
para arcar com a pensão. Também há de estabelecer-se um
vínculo verossímil entre a capacidade de pagar e os pagamentos
efetivamente realizados, pois um
fato não decorre necessariamente do outro.
A vantagem da fase iniciada
com o choque de realismo do
Conselho de Ética é que a investigação agora parte de um patamar bem mais razoável. Perdeu
força um pilar importante da linha de defesa do presidente da
Casa, o de que não se trataria de
assunto público, mas privado.
Fica claro que há apenas um
caminho para Renan Calheiros
afastar-se do questionamento.
Precisa convencer seus pares e a
opinião pública, com documentos e testemunhas -sujeitos a
perícia independente, a investigação jornalística e ao contraditório-, de que os recursos para o
pagamento da pensão são próprios e têm origem legítima.
É o que se espera que aconteça
ao final desse processo, decerto
incômodo para o presidente do
Senado, mas que faz parte do
custo da opção pela vida pública
e é indispensável para o fortalecimento da democracia.
Próximo Texto: Editoriais: Sigilo ameaçado
Índice
|