São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2007

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Melhor assim

Vencida a tentativa de sepultar sem apuração o processo contra Renan Calheiros, é hora de esclarecer pendências

O CONSELHO de Ética livrou o Senado de um vexame ao negar o arquivamento do processo contra o presidente da Casa, Renan Calheiros. A opção por liquidar o caso num rápido lance de camaradagem corporativa, consagrada na chamada "operação epitáfio", parece ter soçobrado. Melhor assim.
Os senadores compreenderam o óbvio -o que nem sempre acontece- após uma série de fatos ter colocado em dúvida a defesa preliminar de Renan Calheiros. Ainda que os parlamentares houvessem enterrado o processo na quarta-feira, o caso teria seqüência autônoma na opinião pública e nos meios de comunicação, apenas acrescentado de uma dose cavalar de desgaste para a imagem do Senado Federal.
Evitada mais uma grande afronta à sociedade, é preciso agora que a Casa se dedique a esclarecer de vez a origem dos recursos com que o presidente do Senado pagou pensão a uma filha. O assunto extrapola a esfera da intimidade de Renan Calheiros, pois é fato, admitido pelo senador alagoano, que um lobista de uma construtora de obras públicas intermediou pelo menos parte dos pagamentos.
Ao presidente do Senado devem ser dadas todas as oportunidades de, em público, apresentar uma peça de defesa que dirima as questões em suspenso. Questões como as confusas e bastante lucrativas negociações com gado e a veloz evolução patrimonial que, segundo o senador, lhe deram cacife financeiro suficiente para arcar com a pensão. Também há de estabelecer-se um vínculo verossímil entre a capacidade de pagar e os pagamentos efetivamente realizados, pois um fato não decorre necessariamente do outro.
A vantagem da fase iniciada com o choque de realismo do Conselho de Ética é que a investigação agora parte de um patamar bem mais razoável. Perdeu força um pilar importante da linha de defesa do presidente da Casa, o de que não se trataria de assunto público, mas privado.
Fica claro que há apenas um caminho para Renan Calheiros afastar-se do questionamento. Precisa convencer seus pares e a opinião pública, com documentos e testemunhas -sujeitos a perícia independente, a investigação jornalística e ao contraditório-, de que os recursos para o pagamento da pensão são próprios e têm origem legítima.
É o que se espera que aconteça ao final desse processo, decerto incômodo para o presidente do Senado, mas que faz parte do custo da opção pela vida pública e é indispensável para o fortalecimento da democracia.


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