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Sigilo ameaçado
É PÉSSIMA a iniciativa da
Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS) de permitir que operadoras e seguradoras tenham acesso indiscriminado a dados sigilosos do paciente. Isso ocorre porque a ANS introduziu um novo modelo de
guia de exames, consultas e internações no qual há um campo
para que o médico coloque o
diagnóstico do paciente, e as informações constantes deste documento podem circular entre
operadoras, médicos e hospitais.
O diagnóstico é um dado constitucional e legalmente protegido por sigilo. O médico que o divulga sem autorização do paciente pode ser processado nas
esferas civil e penal. Resolução
recente do Conselho Federal de
Medicina (CFM) proíbe seus
profissionais de preencher a guia
com o CID, o código da doença
no sistema internacional de classificação de moléstias.
A preocupação do Conselho se
justifica. Sabe-se que algumas
operadoras costumam glosar
procedimentos de pacientes
"gastadores" e até descredenciar
médicos que requisitam exames
caros. Acesso fácil ao diagnóstico
de cada cliente potencial é tudo
de que elas precisam para elaborar "listas negras", isto é, identificar portadores de certas doenças crônicas e impedi-los até
mesmo de contratar um plano.
Também é estranha a justificativa da ANS para a mudança no
modelo de guia. Ela alega que a
inclusão do diagnóstico permitirá a geração de um banco de dados muito útil para estudos epidemiológicos. É verdade. Só que
esse gênero de pesquisa dispensa
a identificação do paciente. Basta que o médico notifique a
doença à ANS ou a qualquer outra instância competente.
As operadoras têm por certo o
direito e até o dever de combater
fraudes e evitar gastos desnecessários. Devem estar atentas a casos que fogem ao padrão e investigá-los, o que, por vezes, exige
questionar o médico e eventualmente inquiri-lo sobre o diagnóstico do paciente. Essa, entretanto, é uma tarefa que cabe ao
médico auditor contratado pela
operadora, que também tem o
dever legal de guardar sigilo. Não
são informações públicas que
possam cair nas mãos de administradores e corretores.
Dessa história toda fica a suspeita de que a ANS anda se aproximando demais das operadoras.
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