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JOSÉ SARNEY
O mundo vai acabar
OS ISRAELENSES compradores de papéis antigos descobriram um manuscrito de
um senhor Isaac Newton -o autor
da teoria da gravidade- dizendo
que o mundo vai acabar em torno
de 2060. Esse senhor -já que hoje
é necessário verificar, diante de
tantas operações, se ele não está
envolvido em uma delas, quem sabe, a Furacão- é um homem de
boa ficha. Edmond Halley, o que
deu nome àquele cometa que aparece por aqui entre 74 e 78 anos, dizia dele que "mais próximo de
Deus nenhum mortal pode chegar". Halley também foi um desses.
Estudou quase tudo e foi quase tudo. De capitão de navio a inventor
de um mapa do tempo e de um sino
de imersão, descobridor do funcionamento de marés e do cometa que
tem o seu nome.
Já o senhor Newton, dizem, tinha um temperamento na borda
da paranóia. Bill Bryson afirma que
ele, "depois de tirar o pé da cama
para acordar, ficava sentado muitas horas, atacado por uma súbita
irrupção de pensamento". Estudou
hebraico para descobrir no Antigo
Testamento pistas matemáticas
para as datas do nascimento de
Cristo e do fim do mundo. Agora é
justamente em Jerusalém que se
descobre o fruto de suas alquimias.
Cá de minha parte fico com as
barbas de molho e, toda vez que falam do fim do mundo, tomo minhas precauções, porque já assisti a
ele acabar muitas vezes.
Meu primeiro fim do mundo é de
quando eu era criança em São Bento, no interior do Maranhão, tempos sem luz, água, penicilina, TV e
McDonald's, mas com muita malária e varíola. Foi um "Deus não nos
faça isso". As portas de nossa casa
foram tomadas por grandes cruzes
desenhadas em carvão, para espantar o Diabo, porque eram ele e o pecado os responsáveis. As rezas aumentaram, e os "sinais do fim dos
tempos" começaram a aparecer.
Era uma vaca que morria de mordida de porco, uma galinha que cantava como galo e não faltou quem
tivesse visto no meio do campo um
dragão botando enxofre pela boca,
num rolo de fumaça que era absorvido pela escuridão. Todo mundo
ficou diferente, e até surgiram histórias de maridos que confessaram
pecados e mulheres que botaram
para fora suas fraquezas.
Mas, agora, é mais sério. O mundo vai acabar mesmo. É o Vaticano,
pela Pastoral do Migrante e das
Pessoas Itinerantes, que diz que
estamos no fim. Fez um documento (em latim?) com os 10 Mandamentos dos Motoristas Católicos.
A igreja perdeu a fé na vida eterna. A salvação está em evitar desastres de automóvel e em algumas recomendações. Por exemplo, "não
use seu carro para uma ocasião de
pecado, fazendo sexo inseguro" e
"evite rezar ao volante". As Tábuas
de Moisés... deixa pra lá. É o fim do
mundo.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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