|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NELSON MOTTA
Novela ao vivo
AMSTERDAM - Descobrir se a
mesada da amante do senador era
paga por um lobista amigo virou
apenas um detalhe. Sórdido, é verdade, mas foi só o ponto de partida
para uma novela patética e, às vezes, hilariante, que estou acompanhando ao vivo pela TV Senado, em
meu laptop sem fio, nas praças e cafés deste mundo tão distante.
De longe, tudo fica mais claro; os
personagens, mais definidos; a trama, mais reveladora. É uma produção mambembe, os atores são canastrões, os figurinos são horrorosos, dos cabelos nem se fala. Receio
que a sorridente holandesa que toma café ao lado me pergunte o que
há de tão interessante e engraçado
na minha tela para me manter tão
atento e provocar tantas gargalhadas e palavrões. Mas ela pergunta.
Seria difícil explicar que aquelas
figuras são a elite política do meu
país, e que me revoltam, divertem e
envergonham na mesma intensidade nessa novela ao vivo. Mas tentei.
Arregalou os olhos quando lhe
mostrei o presidente da Comissão
de Ética, o intrépido Sibá, eleito
sem um voto, representante dos povos da floresta. Europeu adora essas coisas de floresta.
Vendo o sergipano Almeida, feroz e ameaçador, ela achou logo que
era um vilão. Tentei explicar a tropa
de choque do presidente acuado,
identificando seus combatentes.
É uma tropa chocante, as imagens não mentem, nem seria preciso dar as biografias dos personagens. Ela fica fascinada com a cabeleira do suplente Salgado e mais
ainda quando informo que se trata
de um educador -é formado em
educação física e doutor em educação à distância. Ela ri e me chama de
mentiroso.
Como não posso seguir "Paraíso
Tropical" daqui, vou me contentando com a novela da TV Senado: apesar da canastrice do elenco, a trama
é eletrizante.
É a cara do Brasil.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Voando Próximo Texto: José Sarney: O mundo vai acabar Índice
|