São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2010

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Depois de Uribe

Com quase 70% dos votos, Juan Manuel Santos, 58, sagrou-se presidente eleito da Colômbia.
Como era de esperar, dedicou o triunfo ao padrinho eleitoral, o presidente Álvaro Uribe, cujos índices de aprovação -praticamente iguais ao da parcela de votos destinada a Santos- foram decisivos para a vitória.
Não seria pequeno o capital político de qualquer candidato que se apresentasse como representante de um projeto continuísta no país vizinho. Em oito anos de governo, Uribe enfrentou e enfraqueceu as Farc, a guerrilha associada ao narcotráfico, devolvendo ao cidadão direitos básicos, como o de se locomover pelo país.
Santos, ex-ministro da Defesa de Uribe, tem sua imagem política associada a essas e outras conquistas do presidente que agora deixa o cargo. É o caso da sensível redução da violência nas principais cidades do país, a que se soma um incremento médio anual do PIB de 4,4%.
A título de comparação, a economia brasileira cresceu 3,6% ao ano, em média, sob o presidente Lula, de 2003 a 2009 -mesmo período do presidente colombiano.
Mas a escolha de Santos também veio apesar de Uribe -que tentou, até o último momento, viabilizar seu projeto de concorrer a um terceiro mandato. Em fevereiro, a Corte Constitucional da Colômbia vetou, enfim, a realização de plebiscito sobre o tema.
O atual mandatário não tinha em Santos seu sucessor predileto. Na campanha, o candidato aludiu aos altos índices de desemprego (12%) e de pobreza (45% da população), que não se alteraram profundamente sob Uribe, apesar do crescimento econômico. É de esperar, ainda, que ocorra alguma inflexão no front externo, pois ao mesmo tempo em que sua conquista premia o trabalho do antecessor, Santos certamente terá voo próprio.
Interessa ao país melhorar o relacionamento com a Venezuela, tradicional importadora de bens industriais colombianos. Crescentes conflitos diplomáticos entre Bogotá e Caracas levaram o governo de Hugo Chávez a reduzir o volume de trocas comerciais entre os dois países, para prejuízo local.
Ganha a Colômbia, que vai deixando para trás tempos sombrios, e ganha a democracia do continente, que não deixou prosperar a tentação continuísta.


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