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FERNANDO DE BARROS E SILVA
A hora da fugitiva
SÃO PAULO - Algum amigo do peito deveria presentear José Serra
com um despertador. Talvez um
modelo imitando o som da vuvuzela, para entrar no clima. Eram 11h42
quando o candidato tucano à Presidência entrou no palco da sabatina
Folha/UOL, evento com transmissão ao vivo marcado para as 11h.
Esperavam-no sentados na primeira fila, à frente da plateia que lotava o teatro, Gilberto Kassab, Geraldo Alckmin, Orestes Quércia,
Aloysio Nunes Ferreira, entre tantos outros. Não é fácil descrever a
cena, mas todos ali pareciam seus
empregados. Serra chegou sério,
sem dizer bom dia nem pedir desculpas pelos 42 minutos de atraso.
Ele viria se retratar apenas no final do evento, duas horas mais tarde, depois de ser questionado sobre
a razão de viver assim, sempre de
mal com o relógio: "Eu detesto me
atrasar. Eu sofro também, até mais
do que as pessoas que esperam",
disse, como se fosse o coelho da Alice. Os psicanalistas talvez se interessem por tanta e sincera aflição.
Serra chegou tarde, mas compareceu à sabatina. Dilma Rousseff,
sua principal adversária, fugiu do
compromisso que havia assumido.
É muito mais sério. A petista tem
evitado sistematicamente as situações de exposição e de confronto.
Em público, só com papel na frente
ou de braço dado com Lula -de
preferência, as duas coisas juntas.
Agora, em seu giro europeu, armado às pressas e só explicável pela determinação de tirá-la de circulação, Dilma acabou posando de
estadista antes do tempo. Em Paris,
se hospedou num hotel de grã-fino
nos Champs-Elysées e reclamou do
assédio dos jornalistas. Mas não sabia bem o que dizer aos repórteres
em Bruxelas, após encontro pouco
amigável com o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso.
Dilma vem sendo tratada no PT
como um bibelô que deve ser preservado do mundo. Vive hoje numa
espécie de redoma, e sua figura vai
ficando marcada, inclusive fisicamente, pelo artificialismo. É uma
aposta de risco. Que pode vingar.
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