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TENDÊNCIAS/DEBATES
Atualmente, é possível resolver o conflito
no Oriente Médio pela via diplomática?
SIM
Dêem uma oportunidade à diplomacia
CARLOS DOS SANTOS
FOI COM GRANDE preocupação
que a ONU recebeu a notícia deste novo conflito no Oriente Médio, uma das regiões do mundo que
mais têm sofrido com a violência e
com as guerras nas últimas décadas.
O secretário-geral da Organização
das Nações Unidas, Kofi Annan, foi
incisivo em suas declarações: "Condeno todas as ações que têm como alvo civis ou que podem colocar suas vidas em perigo devido a seu caráter indiscriminado ou desproporcional".
Na última quinta-feira, dia 20 de julho, Annan apresentou ao Conselho
de Segurança um pacote de medidas
que visam resolver esse conflito. A decisão está agora na mão dos estados-membros que podem, ou não, aprovar
esse conjunto de ações.
Na região, desde 1948, quando a Organização para a Supervisão da Trégua (UNTSO, na sigla em inglês) foi
fundada, a ONU tem tido uma presença constante naqueles países,
sempre na tentativa de levar a paz,
por meio da diplomacia e da negociação, a essa conturbada parte de nosso
planeta. Hoje, a UNTSO é a força de
paz mais antiga em operação.
Se analisarmos os eventos dos últimos 48 anos, podemos dizer que a diplomacia falhou? Que o diálogo foi
inútil?
Como funcionário das Nações Unidas há mais de 20 anos, não posso
acreditar nisso. A ONU, da qual o Brasil é um dos fundadores, não foi criada
para "preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra"? Foi.
A guerra é sempre uma catástrofe
humanitária, um caminho que deve
ser percorrido somente quando todas
as possibilidades foram exauridas e
quando fica óbvio que a alternativa é
ainda pior. Porém, essa terrível escolha nunca deve ser tomada por um
Estado sozinho, mas pela comunidade internacional como um todo, por
meio das Nações Unidas.
Mas, repito, a ONU tem a obrigação
de esgotar todas as possibilidades de
diálogo e de negociação antes de autorizar o uso da força. Afinal, as Nações
Unidas foram criadas na crença de
que o diálogo pode vencer a discórdia,
de que a diversidade é uma virtude
universal e de que os povos do mundo
são muito mais unidos pelo seu destino comum do que divididos por suas
identidades individuais.
Hoje, perante a intensidade dos
bombardeios dos últimos dias, é inegável que houve um retrocesso nas
negociações que a ONU, como parte
do quarteto diplomático, vinha realizando desde 2002. Mas buscar a ajuda da força para silenciar as armas onde ainda existem muitos trilhos da
paz inexplorados não faz sentido neste momento.
Curar as feridas de sociedades e
países que atravessaram diversos e
recentes conflitos como aqueles do
Oriente Médio não é fácil. E é por isso
que a situação na região é volátil e
complicada. Especificamente neste
caso, assuntos como território, nacionalidade e posse se tornaram ainda
mais intrincados pelas diferenças religiosas que têm como epicentro a
terra santa de três religiões.
O que era um conflito entre nações
está se transformando em conflito religioso. Neste caso, somente um honesto e construtivo diálogo poderá
ajudar a separar as denominadas
questões de civilização e de religião
dos problemas políticos e territoriais,
pavimentando o caminho para uma
resolução que honre todas as religiões, escolhendo uma paz justa, em
oposição a uma guerra sem fim.
Só o final dos confrontos poderá
pôr fim a esta crise. Embora Israel tenha preocupações legítimas quanto à
sua segurança nacional, a lei humanitária internacional obriga a se abster
de ataques direcionados a alvos civis;
e essa proibição também está sendo
desrespeitada pelo Hizbollah.
O término das hostilidades é urgente. O Hizbollah deve parar de jogar foguetes e libertar os soldados israelenses capturados, e Israel deve cessar as
ações de guerra. A ONU espera que
essas ações aconteçam o mais rapidamente possível para poupar vidas de
civis inocentes, que, como acontece
na maioria das guerras, são as principais vítimas.
Como afirmou o secretário-geral
em sua última intervenção no Conselho de Segurança, quando foi bastante
claro quanto à crise do Oriente Médio: "Dêem uma oportunidade à diplomacia".
CARLOS DOS SANTOS, 59, diplomata caboverdiano, é o
diretor do Centro de Informação das Nações Unidas para o
Brasil (Unic Rio).
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