São Paulo, domingo, 22 de julho de 2007

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CLÓVIS ROSSI

Esse costume de mentir

SÃO PAULO - Depois de ver as entrevistas coletivas da diretoria da TAM e dos responsáveis oficiais pelo tráfego aéreo no Brasil, saí com a sensação de que Congonhas é melhor que o Changi de Cingapura, em geral apontado como o melhor aeroporto do mundo.
Aí, na sexta-feira, vem o governo federal e anuncia um pacote para desidratar Congonhas, reduzindo em até 40% o número de vôos. De quebra, anunciou a construção de um novo aeroporto em São Paulo, o que significa que Congonhas (e Cumbica também) está saturado.
Aeroporto saturado é um problemão, quando não um perigo. Não sei se as medidas anunciadas serão postas em prática. O governo Lula caracteriza-se por anunciar, por exemplo, o "espetáculo do crescimento", que, passados quatro anos do anúncio, ainda não está em cartaz nem nos melhores nem nos piores teatros da pátria.
Sei, no entanto, e todo mundo interessado sabia, que Congonhas operava muito além dos limites já faz um tempão. Os dez meses de "apagão aéreo" eram a evidência física do que o presidente prefere tratar como "problema", para fugir do termo certo (crise).
Por que, então, só agora o governo federal -responsável pelo setor aéreo de A a Z, é bom deixar claro- resolve agir ou anunciar que vai agir? Por que morreram 200 pessoas? Então, o acidente tem a ver com os "problemas" de Congonhas? Ninguém pode afirmar que tem. Ou que não tem. Mas o governo insinua que tem, porque, antes, sua recomendação oficial era "relaxar e gozar". Agora, não é mais.
Tudo somado, vale a perfeita avaliação do notável jurista Walter Ceneviva em seu artigo de ontem: "O costume das companhias e das autoridades de manter descompasso com a verdade nos levou à descrença final".
PS - "Descompasso com a verdade" é parte da elegância de Ceneviva. Eu diria "o costume de mentir".

crossi@uol.com.br


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