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ELIANE CANTANHÊDE
Plínio, o provocador
BRASÍLIA - No próximo dia 26, Plínio Arruda Sampaio faz 80 anos.
Viu e participou de muita coisa que
ocorreu neste país nas últimas seis
décadas, pelo menos. Em 1964, fugiu de Brasília de carro com um casal amigo e os dois filhos pequenos
de André Reis, um figuraça do velho "partidão", que os "emprestara" para fingir que era uma família.
Depois de 12 anos no exílio, no
Chile e nos EUA, ele articulou com
Fernando Henrique e Almino Afonso, ex-ministro de Jango, o Partido
Socialista Democrático Popular
(PSDP), que já tinha até programa e
manifesto, mas não vingou. Segundo ele, FHC roeu a corda e passou a
defendeu a união do antigo MDB
contra a ditadura.
Plínio pulou para outra empreitada e fez o primeiro estatuto do PT
em 1980. Mas, com o tempo, se desiludiu: "Acompanhei a virada do
PT para a direita. Aí, fim de papo". E
foi um dos fundadores do PSOL, pelo qual concorre agora contra Serra,
Dilma e Marina, na condição de
"nanico". O dissidente do PT nasceu com discurso vigoroso, mas
condições frágeis.
Com uma curiosa trajetória, que
começa na comportada democracia cristã -era deputado do PDC
quando, aos 32 anos, relatou a reforma agrária na Câmara-, Plínio
saiu do centro, guinou para a esquerda e fincou raízes na extrema
esquerda, se é que é possível falar
em extrema esquerda no Brasil.
Há quem entre em campanha para ganhar, custe o que custar (em
vários sentidos). Não é o caso do octogenário Plínio, que entrou porque seu partido decidiu ter candidato próprio sem ter opções de nomes e porque ele quis um espaço
para pregar a justiça social.
Na sua opinião, FHC e Lula avançaram pouco nessa questão fundamental, porque a redistribuição de
renda é lenta e tem sido via salário,
não via capital. Mas ressalva: "Eu
não sou contra governos, sou contra o Estado brasileiro".
Numa eleição polarizada, Plínio
pode cumprir o papel de... provocador. O que pode ser muito bom.
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