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Jazida promissora
Governo acerta ao propor aumento nos royalties sobre mineração; recursos devem promover desenvolvimento, e não só elevar arrecadação
Faz certo o governo federal de
propor a alteração da cobrança
dos royalties da mineração, com a
elevação de certas alíquotas, como a do minério de ferro.
O Palácio do Planalto cultiva,
ao menos desde 2008, a intenção
de aumentar a taxação das mineradoras. A ideia chegou a ser soterrada no ano passado, diante da
reação contrária das empresas e
da objeção de parte da equipe econômica, que temia perder receita
com eventuais compensações na
forma de corte em outros tributos.
No cenário global, a tendência é
mesmo de elevação nos royalties e
taxas sobre minérios. No Chile, o
percentual cobrado pode chegar a
14%. Na Austrália, negociaram-se
valores de até 30%.
No Brasil, a alíquota sobre minério de ferro, que responde por
até quatro quintos dos royalties
arrecadados, fica em 2%. As bases
sobre as quais incidem esses valores não são equivalentes, mas é
inequívoco que as tarifas setoriais
brasileiras estão entre as menores.
O setor afirma, não sem razão,
que a carga de impostos aqui é
bastante mais pesada que no exterior. Esse argumento, no entanto,
é verdadeiro não apenas para a
mineração mas para todos os setores da economia brasileira, sobrecarregada com um barroco emaranhado tributário.
Há, todavia, margem para aumentar os royalties da mineração.
No ano passado, o Brasil arrecadou R$ 1,1 bilhão com esse instrumento, uma alta de 46% em relação a 2009, mas ainda assim uma
fração diminuta do rendimento
obtido no setor. O lucro líquido da
Vale, maior mineradora do país,
fechou 2010 em R$ 30 bilhões.
As mudanças não podem, como
é óbvio, engessar a atividade, beneficiada pela disparada nos preços internacionais das commodities. O setor deverá ser responsável por investimentos de US$ 64,8
bilhões (R$ 100,5 bilhões) no Brasil até 2015. A alta no caso do minério de ferro, de 2% para 4%, não
parece despropositada.
É importante rememorar que
royalties não são exatamente um
imposto, mas uma forma de compensar os danos causados pela
atividade e também de guarnecer
a economia para o esgotamento
de um bem finito, não renovável.
Pela lei, 65% dos recursos vão
para os municípios. Uma alternativa que deveria ser discutida é a
criação de um fundo com a verba
proveniente dos royalties da mineração e regras claras para destinação específica a áreas como
saúde, educação e saneamento.
Em vez de gastos duvidosos e
eleitoreiros, a verba seria utilizada
para que as cidades afetadas construam uma rede de assistência a
seus moradores e preparem-se para um futuro pós-bonança.
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