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Editoriais
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Perdidos no espaço
Quando foi deflagrada, há mais
de cinco décadas, a corrida espacial parecia anunciar o começo de
uma nova era.
Ao colocar o primeiro satélite
em órbita (1957) e repetir o feito
com uma nave tripulada (1961), a
então União Soviética não apenas
levava a competição mundial entre dois modelos -capitalismo e
socialismo- a uma nova fronteira
simbólica. Imaginava-se, nos dois
lados do grande confronto, que o
futuro estava no espaço, como estivera antes na exploração dos
oceanos e na navegação aérea.
Assim desafiados, os Estados
Unidos mobilizaram recursos necessários para liderar a competição e enviar, a partir de 1969, sucessivos pares de astronautas à
Lua. Passados tantos anos, o encerramento do programa de ônibus espaciais, com a conclusão do
voo orbital da Atlantis ontem, sugere um balanço do ciclo pioneiro.
É notório que as expectativas,
infladas pela excitação ideológica
da Guerra Fria, não se confirmaram. O próprio investimento nos
programas espaciais já declinava
desde que a dissolução do império
soviético fez os gastos parecerem
exorbitantes como nunca.
Americanos e russos, entretanto, enviaram missões não tripuladas a todos os planetas do Sistema
Solar. Embora exista água líquida
(e talvez formas rudimentares de
vida) num satélite de Júpiter (Europa) e noutro de Saturno (Encélado), essas viagens nada revelaram
de promissor do ângulo prático.
A utilização econômica do espaço remoto, para não dizer sua
ocupação demográfica, continua
mera fantasia. As distâncias são
incomensuráveis; os custos, astronômicos.
Onde a competição espacial gerou resultados palpáveis, tecnológicos e econômicos, foi na dimensão menos espetacular das vizinhanças do planeta, a faixa de 36
mil quilômetros em que trafegam
milhares de satélites artificiais.
Essa rede, que viabilizou o
enorme progresso das telecomunicações nestas décadas, também
deu impulso a avanços em áreas
como meteorologia e eletrônica.
Torna-se um problema conforme
se acumulam objetos cuja órbita
um dia decairá até que se desfaçam em atrito com a atmosfera,
nem sempre de forma segura.
A exploração do espaço continuará porque o desejo de conhecer é inextinguível. Seu desenrolar, porém, será mais lento e realista. Nossa condição parece ser
solitária (há décadas varremos os
céus na busca de sinais que possamos interpretar como inteligentes...); não falta razão para nos
voltarmos mais para a Terra e seus
graves problemas do que para "os
abismos do espaço infinito".
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