São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 2002

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INSENSATEZ DO MERCADO

O presidente Fernando Henrique Cardoso fez sérias críticas ao funcionamento dos mercados financeiros internacionais. Segundo FHC, os mercados tiveram um "surto de insensatez" quando cortaram o crédito ao setor privado brasileiro.
Os mercados financeiros internacionais passam celeremente da euforia para a depressão. A crise de confiança na economia dos EUA -desencadeada pela desaceleração econômica e pelas fraudes contábeis, associada à ruptura dos contratos de dívida argentina- elevou a incerteza, tornando quase impossível o cálculo da rentabilidade dos investimentos. Diante de tal incerteza, os investidores estrangeiros reduziram suas posições nos mercados financeiros e de ativos reais brasileiros, ocasionando restrição do crédito externo, com flutuações drásticas no câmbio. Assim, a análise do presidente está correta: o sistema financeiro internacional é instável, pois sujeito à oscilação nas expectativas.
Todavia, foi o governo FHC que aprofundou os vínculos do mercado financeiro doméstico com o internacional. Em primeiro lugar, estimulou o endividamento externo das empresas. Em segundo lugar, promoveu a entrada de capital, mediante investimento direto e de portfólio. Em terceiro lugar, facilitou os mecanismos de saída de capital, embora mantendo os registros das operações no Banco Central.
O resultado foi a elevação do passivo externo bruto para US$ 432 bilhões e remessas anuais de juros e lucros em torno de US$ 20 bilhões, sem a geração de superávits comerciais equivalentes. Essa inserção internacional -que subordina a economia brasileira aos surtos de expansão e de retração dos mercados financeiros-, deve ser objeto de ampla discussão na campanha eleitoral. A dependência de capitais externos precisa ser reduzida mediante saldos comerciais crescentes e a redefinição do papel do sistema financeiro doméstico no financiamento do desenvolvimento econômico e social.


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