São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Olga

RIO DE JANEIRO - Ainda não vi a última produção cinematográfica nacional, talvez a mais badalada de todos os tempos. Admiro e respeito o trabalho de Fernando Morais e Jayme Monjardim, com quem aliás já trabalhei e considero o "melhor olho" do nosso cinema.
Alguns críticos estão reclamando do filme pela falta de rigor histórico da produção, embora o texto em que se baseou (o livro de Fernando) seja de primeiríssima qualidade.
Há tempos, na falecida Rede Manchete, em parceria com outros autores (Adolpho Bloch e Wilson Aguiar Filho), escrevemos uma novela ("Kananga do Japão"), que acompanhava os acontecimentos nacionais de 1929 a 1939. No miolo da novela figurava uma minissérie dedicada a Olga, interpretada por Betina Vianny. O episódio ficou três semanas no ar. Tanto Wilson Aguiar Filho como eu também nos baseamos, entre outras fontes, no fabuloso livro do Fernando Morais.
Luís Carlos Prestes estava vivo e me telefonava, às vezes corrigindo algum detalhe, outras elogiando a solução que havíamos encontrado para os pontos mortos daquele drama, que eram muitos, por sinal.
A verdadeira história de Olga, segundo as pesquisas de William Waack na Alemanha e na antiga União Soviética, difere e tem mesmo um outro sentido, bem diverso daquele que foi aceito pela história romantizada de um episódio realmente novelesco. Olga foi, acima de tudo, uma profissional engajada num processo político, recebeu uma missão e cumpriu-a da melhor forma possível, pagando o preço por ela.
Entre a lenda e a realidade, o romance e o cinema sempre ficarão com a lenda. As peças de Shakespeare (os Henriques todos, o 2º, o 3º, o 4º, o 5º e o 6º) estão mais voltadas para a lenda do que para a história. Teatro e cinema são criações autônomas e dão melhor recado quando se afastam da realidade e penetram no maravilhoso universo da lenda.


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