São Paulo, terça-feira, 22 de agosto de 2006

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SERGIO COSTA

O bicho e o bonde

RIO DE JANEIRO - Nos seis primeiros meses do ano, foram registrados 17.975 roubos de carros no Rio, muitos deles com violência. Na capital, 73% desses crimes acontecem na zona norte.
A região também é o palco preferido para as blitze de bandidos, em que homens armados fecham ruas, saqueiam motoristas e roubam carros para a formação de "bondes" -comboios de traficantes usados para o transporte de armas e drogas entre favelas ou para a invasão de novos territórios.
As "falsas blitze", como alguns jornais chamam essas operações criminosas, geralmente ocorrem à noite e durante a madrugada. Apavoram tanto os motoristas que em alguns bairros há uma espécie de toque de recolher voluntário e poucos se arriscam em sair à noite.
Contra os bondes, há até bem pouco tempo, a PM passou a circular em comboios pelas principais vias. Também formou seus bondes, desfeitos com determinação do governo do Estado para cortar custos. Com menos gasolina, o patrulhamento na cidade tornou-se mais estático: os carros da polícia ficam parados em pontos estratégicos.
Esse é o quadro em quase todo o Rio. "Quase todo" porque o leitor da Folha soube ontem que há um "oásis" em plena zona norte: a jurisdição onde o bicheiro Piruinha explora a contravenção.
Ali, nos bairros que cercam a Abolição, as estatísticas fogem do padrão, e um adesivo do haras de Piruinha, colado ao vidro traseiro dos carros, tem livrado seus donos de roubos e blitze de criminosos. "A bandidagem do Rio todo me respeitava muito. Respeitava, não, respeita", explicou o contraventor ao repórter Raphael Gomide.
É uma história que fala por si só ao revelar uma incrível inversão de valores e que poderia ter como trilha aquela velha música do Chico: "Chame o ladrão, chame o ladrão!".


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