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SERGIO COSTA
O bicho e o bonde
RIO DE JANEIRO - Nos seis primeiros meses do ano, foram registrados 17.975 roubos de carros no
Rio, muitos deles com violência. Na
capital, 73% desses crimes acontecem na zona norte.
A região também é o palco preferido para as blitze de bandidos, em
que homens armados fecham ruas,
saqueiam motoristas e roubam carros para a formação de "bondes"
-comboios de traficantes usados
para o transporte de armas e drogas
entre favelas ou para a invasão de
novos territórios.
As "falsas blitze", como alguns
jornais chamam essas operações
criminosas, geralmente ocorrem à
noite e durante a madrugada. Apavoram tanto os motoristas que em
alguns bairros há uma espécie de
toque de recolher voluntário e poucos se arriscam em sair à noite.
Contra os bondes, há até bem
pouco tempo, a PM passou a circular em comboios pelas principais
vias. Também formou seus bondes,
desfeitos com determinação do governo do Estado para cortar custos.
Com menos gasolina, o patrulhamento na cidade tornou-se mais estático: os carros da polícia ficam parados em pontos estratégicos.
Esse é o quadro em quase todo o
Rio. "Quase todo" porque o leitor da
Folha soube ontem que há um "oásis" em plena zona norte: a jurisdição onde o bicheiro Piruinha explora a contravenção.
Ali, nos bairros que cercam a
Abolição, as estatísticas fogem do
padrão, e um adesivo do haras de
Piruinha, colado ao vidro traseiro
dos carros, tem livrado seus donos
de roubos e blitze de criminosos. "A
bandidagem do Rio todo me respeitava muito. Respeitava, não, respeita", explicou o contraventor ao repórter Raphael Gomide.
É uma história que fala por si só
ao revelar uma incrível inversão de
valores e que poderia ter como trilha aquela velha música do Chico:
"Chame o ladrão, chame o ladrão!".
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