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CESAR MAIA
Segundo turno
UMA ELEIÇÃO em dois turnos tem uma dinâmica própria. Em 1999, o Instituto
Friederich Nalmann, da Alemanha, realizou em Montevidéu um
seminário sobre os mistérios da
"balotage" num quadro pluripartidário. Esses mistérios são como
desenvolver o primeiro turno de
forma a construir a ponte para
agregar forças num segundo turno.
Isso terá que se dar na comunicação dos candidatos e suas propostas. Uma primeira análise é saber
para quais dos demais candidatos
os seus eleitores poderiam, num
eventual segundo turno, serem
atraídos para a sua candidatura. De
nada serve escolher um candidato
de amaciamento, se seus leitores
são antípodas à sua candidatura.
Entre as hipóteses de amaciamento, há que se escolher uma delas. Esta escolha terá dois aspectos.
Primeiro, não pode chocar os seus
próprios eleitores. Segundo, deve
ser uma candidatura com lastro de
forma, que valha a pena amaciar.
Amaciamento é encontrar qualidades num adversário ou, no mínimo, não atacá-lo e deixar isso claro
aos eleitores dele. Mas há um risco.
Se o candidato de amaciado tem
lastro, ou seja, intenções de voto
significativas, esta tática sempre
ajudará que este cresça e o ultrapasse. De qualquer forma, esse
amaciamento é decisivo, pois esta
agregação de votos no segundo turno é que trará a vitória. O desespero de ir para o segundo turno, muitas vezes, torna inviável a própria
candidatura no segundo turno.
Portanto a agressividade deve
ser medida, pela oposição ou pelos
candidatos da base do governo. Em
geral, os candidatos só se fixam no
primeiro turno, deixando o segundo para depois, e isso pode ser fatal.
A ansiedade sempre vem, pois a
escolha do amaciado atrasa a agregação de votos. Mas será a pedra de
toque da vitória no segundo turno.
Lula está no caminho certo,
quando insiste numa eleição plebiscitária: o segundo turno seria no
primeiro e sua nitidez seria mais
facilmente entendida num jogo
Lula/anti-Lula. Com um quadro de
pelo menos quatro candidatos, a
teoria do segundo turno passa a
exigir atenção estratégica de todos.
Supondo que um seja de oposição e os demais da base do governo,
como se diferenciar dentro da base? Com que taxa de agressividade?
Quem escolher para amaciar?
O candidato da oposição se beneficia à medida que as críticas intra-candidatos da base serão inevitáveis. Mas também sentirá o peso de
todos os demais o criticarem.
Quem será escolhido para amaciamento? Se for quem troca votos
com ele, essa troca poderá lhe ser
incômoda, mas necessária. O adversário favorito para o segundo
turno é que não poderá ser, pois esse deveria chegar ao segundo turno
com o máximo desgaste. Essa
equação é ainda mais complexa entre os candidatos da base. Complexa, mas inevitável.
cesar.maia@uol.com.br
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta coluna.
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