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RUY CASTRO
Notícias do pantanal
RIO DE JANEIRO - Era uma vez
uma princesa que beijou um sapo,
na certeza de que, ao quebrar-se o
encanto, o sapo voltaria a ser um
príncipe. Em vez disso, foi a princesa que se transformou numa sapa.
Uma variação é a do príncipe que
matou a princesa para ficar com o
dragão. Essas fábulas invertidas já
foram de tudo na vida: desenho animado, cartum, história em quadrinhos. Mas seu habitat natural -o
pântano- é o mundo político.
Foi o que o presidente Lula fez de
novo nesta semana, insistindo em
abraçar-se ao dragão, mesmo que
lhe custasse a perda de velhos aliados. Pela repetição, tal atitude não
deveria surpreender ninguém e, aos
que se indignaram e pediram o boné, desligando-se do PT, só não se
entende por que não o fizeram há
mais tempo. Nos últimos anos, nomes respeitáveis do petismo já caíram fora, e pelo mesmo motivo
-para escapar ao miasma.
Em todas essas defecções, a reação de Lula resumiu-se a "os incomodados que se mudem". Sua autossuficiência fará com que, até o
fim do mandato, a troca de times se
complete: a seu lado, estarão todas
as figuras que um dia ele execrou e
aos quais parecia uma alternativa
-Sarney, Collor, Maluf e os demais.
Na oposição, ou de pijama em casa,
os "companheiros" que, em 1980,
lhe ensinaram as primeiras letras e
o usaram como pôster para suas
ideias, sem imaginar que o pôster
fosse ganhar vida, vestir a casaca e
virá-la pelo avesso.
Lula ficou maior que o PT. Enquanto este se afoga no mangue, o
presidente nada de braçada no azul.
É imune a algas, dejetos e caranguejos, como se fosse feito de teflon
-como o definiu no passado seu
mais simbólico adversário, o hoje
também aliado Delfim Netto.
Nada se gruda a Lula. Dentro de
ano e pouco, sairá do governo fresco
como uma rosa, deixando o brejo
coaxando pela sua volta.
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