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O Brasil deve adaptar o calendário do futebol nacional ao calendário do futebol europeu?
SIM
Pelo bem do espetáculo e dos clubes
DELAIR DUMBROSCK
O PRESIDENTE Lula acertou
mais uma vez ao levantar a discussão sobre possíveis alterações no calendário do futebol brasileiro. É fundamental quebrar os antigos tabus e adotar medidas capazes
de melhorar nosso espetáculo e maximizar as receitas dos clubes.
A cada temporada assistimos a um
verdadeiro desmanche das nossas
equipes, alterando significativamente o equilíbrio de competições em pleno andamento. Isso desestimula o
torcedor e desvaloriza o campeonato,
além de não representar incremento
de receitas semelhante ao que se poderia gerar caso o calendário permitisse aos clubes desenvolver ações capazes de gerar novas receitas.
É bom lembrar que, até bem pouco
tempo atrás, o campeonato brasileiro
nunca tinha sido disputado com o
mesmo formato por dois anos seguidos, não havia mais de uma competição sul-americana e os estaduais foram substituídos por ligas regionais.
Ou seja, nosso calendário não possui sequer tradição forte o suficiente
para refrear uma reflexão capaz de
melhorar o desempenho desportivo e
econômico do futebol brasileiro.
A adequação às datas europeias significa o alinhamento dos mercados
produtor e consumidor.
Sem dúvida, não representa barreira ao êxodo de nossos atletas, mas diminuirá sensivelmente o desmantelamento das equipes no meio das
competições, o que será muito apreciado pelo torcedor brasileiro.
O calendário atual proporciona
ainda um grande desequilíbrio financeiro ao obrigar que os grandes clubes
brasileiros participem de competições sul-americanas pagando um alto
custo de oportunidade.
Havendo uma mudança de calendário, com toda a certeza os nossos
clubes estarão na Ásia, nos EUA e em
outros mercados, realizando suas
pré-temporadas com os times europeus e produzindo novas receitas, ou
até mesmo promovendo torneios internacionais em nosso país.
Recentemente, o Clube dos 13 criou
um grupo de trabalho -formado por
Flamengo, Palmeiras, São Paulo, Corinthians, Vasco e Grêmio- para estudar formas de reestruturação social
e financeira dos clubes brasileiros.
É a primeira vez que se promove
uma reflexão voluntária sobre a questão, e a conjuntura não poderia ser
melhor, pois o esporte tem merecido
a atenção de todos os setores do governo e da sociedade.
O grupo já começou a debater vários temas, como a governança corporativa dos clubes brasileiros, o adensamento da cadeia produtiva do futebol, o sistema de licenciamento implantado pela Uefa, a Copa de 2014
como catalisador do desenvolvimento do futebol no país e o calendário,
que é um dos pontos mais relevantes,
pois é a chave, direta ou indiretamente, de todas as receitas dos clubes de
futebol. As competições são o produto principal, o carro-chefe de todas as
atividades dos clubes.
É importante ressaltar que, embora
a simples alteração do calendário não
seja a solução para todos os problemas do futebol brasileiro, ela é, sem
dúvida, um bom ponto de partida.
Por isso vemos com grande alegria
e esperança essa mobilização do governo, do Legislativo -em que tramita um projeto que altera a Lei Pelé em
pontos importantes e urgentes-, da
CBF, do Clube dos 13, dos atletas e do
mercado, em particular dos grandes
grupos de comunicação interessados
no futebol, que só trará benefícios para o país.
A Copa do Mundo de 2014 não poderá passar pelo Brasil sem deixar nenhum legado para os clubes.
Precisamos tirar uma lição do que
aconteceu nos Jogos Panamericanos,
cujo legado foram arenas, velódromos e outros equipamentos fechados
e subutilizados, enquanto os clubes
que formam e treinam atletas olímpicos continuam sem nenhum amparo
ou melhorias nas suas instalações.
A realização da Copa terá que fomentar as transformações necessárias no futebol brasileiro, para não
continuarmos a ver os nossos craques
saindo cada vez mais cedo do país.
DELAIR DUMBROSCK é presidente em exercício do Flamengo.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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