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O papel do BNDES
Ao receber recursos do Tesouro e investir em setores tradicionais da economia, banco aumenta riscos e falha na sua política industrial
O grande aumento da carteira
de empréstimos do BNDES nos últimos anos e, mais recentemente,
o controverso aporte de R$ 180 bilhões que recebeu do Tesouro precipitaram um saudável debate a
respeito do papel do banco de fomento na economia brasileira.
É preciso salientar que o BNDES
continua a ser o principal agente
de financiamento de longo prazo
no país. Vários de seus programas
são elogiáveis, como, por exemplo, o Finame, que financia a aquisição de máquinas e equipamentos para um grande número de
empresas -muitas delas de pequeno porte.
Uma parcela dos recursos do
banco tem origem em repasses,
determinados por lei, do Fundo de
Amparo ao Trabalhador, a custos
inferiores aos de mercado. O subsídio é, em parte, repassado para
as empresas tomadoras, mas nesse caso a conta não vai para o Tesouro. E, como é recomendável, os
lucros retidos vinham sendo, nos
últimos anos, a grande fonte da
instituição.
Já a injeção de R$ 180 bilhões e
a concentração dos desembolsos
num grupo menor de empresas,
que se verifica desde 2009, merecem reparos.
Em primeiro lugar, a diferença
entre a taxa de juros que o banco
paga (hoje em 6%) e o custo de financiamento do Tesouro no mercado (pela taxa Selic, hoje em
10,75%) implica subsídio de R$ 8
bilhões ao ano, que não é aprovado, como deveria, pelo Congresso.
Como trata-se de empréstimo de
longo prazo, o subsídio pode mudar, provavelmente para menos,
caso a taxa básica de juros continue a cair nos próximos anos. Entretanto, nas condições atuais, é
um privilégio concedido às empresas receptoras.
Do montante que recebeu do
Tesouro, o BNDES já desembolsou
R$ 115 bilhões. O governo argumenta que não há custo expressivo nessa operação, pois o subsídio
voltaria na forma de maior arrecadação de impostos e dividendos.
O banco estima a criação ou manutenção de 4 milhões de empregos desde meados de 2009.
Mas se é verdade que não há
custo, como argumenta o governo, por que não aumentar o empréstimo para R$ 500 bilhões, ou
mesmo R$ 1 trilhão? Haveria mais
crescimento e dispararia a arrecadação. Ora, se fosse esse o caso, teria sido descoberta a máquina do
movimento perpétuo.
Trata-se de uma falácia, para dizer o menos. É evidente que há impactos positivos na economia,
mas o fato é que os empréstimos
aumentam os riscos assumidos
pelo setor público, que precisam
ser avaliados com cautela.
Outra objeção diz respeito aos
critérios de escolha das empresas
contempladas. Estudiosos de política industrial criticam com veemência o volume de dinheiro direcionado a setores nos quais o país
já é competitivo. Essa linha de
atuação do banco apenas reforça
a estrutura econômica tradicional, deixando de estimular setores
que precisam incorporar tecnologias mais avançadas.
Embora o BNDES ainda tenha
um papel a desempenhar no desenvolvimento do país, já é hora
de defini-lo com mais precisão.
Não faz sentido que o banco estatal de fomento seja inflado como
se a economia brasileira fosse débil e não dispusesse, a essa altura,
de alternativas no mercado.
Além disso, em se tratando de
benesses com dinheiro público, o
governo tem o dever de revelar
quem recebe o dinheiro, a que preço e com que objetivo. E, uma vez
que se concede subsídio, é preciso
explicitá-lo no Orçamento.
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