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NO CÉU E NA TERRA
Há poucos motivos para discordar
das metas fixadas pelo Ministério da
Educação para os próximos dez anos
em todos os níveis de ensino, conforme documento preliminar divulgado
na semana passada.
Quase todas são bastante ambiciosas e por isso mesmo fomentam dúvidas quanto à sua viabilidade. Ademais, elas se voltam a um horizonte
de longo prazo, o que ao menos cria
a impressão -espera-se que não a
ilusão- de que o governo tem um
projeto educacional consistente.
Quanto às metas para o ensino superior, é inegável, por exemplo, a importância de expandir e homogeneizar a oferta de vagas no país, desde, é
claro, que não à custa da deterioração pedagógica. É também fundamental ampliar sistemas de avaliação
e aprimorar a pesquisa de ponta nas
universidades. Mas as maiores incertezas nesse setor pairam sobre as dificuldades políticas que a realização
do plano enfrentará, especialmente
para cumprir a meta de "assegurar
efetiva autonomia didática, científica, administrativa e de gestão para as
universidades públicas."
São notórias as distorções gerenciais que atingem as universidades
federais e algumas estaduais. Seus
orçamentos estão, em larga medida,
comprometidos com o pagamento
de aposentadorias -que, aliás, ocorrem precocemente. A remoção e a renovação de servidores obedecem a
regras extremamente rígidas. E o regime de estabilidade já mostrou sua
inconveniência, sobretudo em instituições que, afinal, são as responsáveis pela qualificação de recursos humanos e pelo avanço tecnológico do
país. A correção desses problemas,
porém, depende da aprovação de
emendas constitucionais.
Sintomaticamente, o plano de metas não aborda um ponto dos mais
complexos: a necessidade de diversificação das formas de financiamento
do ensino superior e da pesquisa.
Tal como no universo das decisões
econômicas, as transformações na
educação não resultam apenas da declaração de boas intenções ou do emprego de boas técnicas. Seu horizonte também é o das complexas gestões
políticas, necessárias à administração de interesses divergentes.
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