São Paulo, domingo, 22 de setembro de 2002

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Prioridade número 1: investir!

O mundo está assustado. As economias do Primeiro Mundo poderiam estar crescendo mais depressa, mas vão muito devagar. Nos Estados Unidos, os escândalos dos balanços, as quedas nas Bolsas de Valores e o medo do terrorismo minaram a confiança dos consumidores e dos investidores. O desemprego, que baixara a 4% no final dos anos 90, já esbarra nos 6%. O crescimento em 2002 deverá ficar em torno de 2%.
A União Européia, igualmente, está ziguezagueando. O crescimento não passará de 1%, como reflexo dos escândalos dos balanços, do terrorismo e dos déficits exagerados do setor público de vários países. O desemprego está na média de 9%, atingindo 13,5 milhões de pessoas.
Em reportagem publicada no jornal "O Globo", uma grande parte do fiasco europeu é atribuída à baixa produtividade (1,1% ao ano), que foi de cerca da metade da americana (1,8%) no período de 1993-2001 ("Máquina européia emperra", "O Globo", 16/9/2002).
O Japão, que brilhou tanto nos anos 70 e 80, amarga mais de dez anos de uma dura recessão. Os programas de investimento governamentais se sucederam, uns após os outros. Os juros baixaram para 0%. E nem assim os produtores se animaram a investir em novas atividades. O desemprego -que sempre esteve em torno de 2%- já ultrapassa a casa dos 5%.
Segundo a Unctad, ligada à ONU, os investimentos mundiais caíram pela metade em 2001. A retração dos investimentos e o mau desempenho das economias avançadas têm um reflexo imediato nos países emergentes. No Brasil, dependemos delas em importações e em exportações, e ficamos em maus lençóis quando as nações desenvolvidas evitam importar usando estratagemas protecionistas.
O que deu no mundo? Numa palavra, fomos duramente atingidos por uma grave crise de confiança. Cada fator apontado tem uma parte da responsabilidade, e a junção de todos explica o desânimo quase geral do mundo inteiro.
O Brasil não está fora disso. Como somos parte de uma aldeia desanimada e desconfiada, o medo se espalha pelos que aqui investem. Mas razão objetiva não há. Falta de potencialidade, muito menos. Ao contrário. Com todas as dificuldades e o perverso protecionismo, vamos fechar o ano com um saldo positivo de mais de US$ 8 bilhões na balança comercial. Mesmo com a forte alta do dólar, temos uma inflação sob controle. Com todos os problemas climáticos do ano passado, produzimos cerca de 100 milhões de toneladas de grãos. E, a despeito da queda dos investimentos mundiais, o Brasil recebeu cerca de US$ 22 bilhões do exterior em 2001.
É verdade que crescemos pouco. Fecharemos o ano com 1,5%. Mas, em vista das dificuldades apontadas, nosso desempenho não foi tão mal. Ainda há muitos motivos para confiar no Brasil. Quem pensa a médio prazo não tem razão para reduzir os investimentos. Quem pensa a longo prazo tem todas as razões para dobrá-los. O importante é garantir uma boa governabilidade para poder investir.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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