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LIMITES REAIS
A opção gradualista do Banco
Central tem sido a tônica da política monetária brasileira. Com poucas exceções, os juros somente se
movimentam com rapidez quando
se trata de uma crise -e sempre no
sentido de alta. Há vários argumentos, inclusive de natureza técnica, para justificar a opção gradualista. O
mais comum deles alerta para os riscos que uma redução abrupta ou exagerada das taxas poderia trazer ao
processo de retomada do crescimento. Se algo sai errado, a necessidade
de novamente elevar as taxas cria
consequências piores do que as dores da redução gradual e cautelosa.
É importante, no entanto, separar,
na política de juros, o componente
associado à administração da confiança daquele referente à dimensão
estritamente econômica.
A crise de confiança, tal como se
configurou na recente transição entre governos, parece hoje definitivamente superada. A administração
Luiz Inácio Lula da Silva respeita
contratos, faz a lição de casa encomendada pelo FMI e encaminha a
mesma agenda de reformas que é defendida pelo sistema financeiro. Já
não há, também, pressões cambiais
nem inflacionárias importantes.
Esse quadro sugere que seria possível romper com a lógica gradualista,
mas, ainda que fosse essa a opção do
BC, haveria um vazio a ser preenchido. Trata-se da indefinição a respeito
das políticas de desenvolvimento,
das perspectivas de recuperação das
reservas internacionais, dos estímulos à substituição de importações e
de uma orientação mais inteligente
do gasto público. Enquanto o governo se mostrar incapaz de orquestrar
políticas estruturais ligadas à dimensão da oferta, todo aumento de demanda, real ou potencial, será visto
com cautela, para dizer o menos.
Os limites reais ao crescimento são
antecipados pelos especuladores
quando não há garantias de que a
queda de juros estará mais associada
à retomada de investimentos produtivos do que ao aumento do consumo e das importações.
A redução gradualista dos juros limita o crescimento, mas a velocidade da retomada também tem como
obstáculo as insuficiências da infra-estrutura produtiva e a incapacidade
do Estado para enfrentá-las.
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