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São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 2003

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Investimentos na era do terrorismo

MIGUEL COLASUONNO


Aqui, a violência se manifesta não em decorrência de conflitos religiosos ou raciais, mas de causas de vários ordens

O terrorismo como nova arma política está se constituindo num gravíssimo obstáculo ao crescimento e à geração de empregos nas economias nacionais e internacionais. O medo aumenta o nível de retração dos investidores, que, consequentemente, voltam-se para aplicações financeiras de curtíssimo prazo, engordando a rentabilidade dos bancos e dos especuladores de plantão. Os puxadores do crescimento econômico mundial -como os EUA, a Europa Ocidental, o Japão e a Europa expurgada do socialismo- estão atemorizados com os desdobramentos das guerras étnico-religiosas e, naturalmente, prováveis reflexos no interior de seus países.
O mercado internacional de capitais defronta-se, em nossos dias, não apenas com a necessidade de análises econômico-financeiras para as decisões do destino das aplicações de seus recursos, mas de análises de perturbações sociais e políticas que ocorrem em várias partes do mundo. Desnecessário acentuar que tais perturbações assumem, frequentemente, caraterísticas graves e violentas, rotuladas de terrorismo.
Comoções políticas decorrentes de insatisfações de largas camadas da população mundial com suas condições de vida sempre foram registradas, tanto em países do Terceiro Mundo, quanto do Primeiro -nestes, em especial no século 19. Contudo elas se manifestavam, até passado recente, na forma de tensões e, mesmo, de conflitos restritos geograficamente, e não assumiam os aspectos violentos de hoje. Além disso, a violência universalizou-se, fazendo com que mesmo países distantes de certos focos de desequilíbrio sejam, por reflexo, afetados por atentados, sequestros e outros crimes, com os quais vamos, infelizmente, nos familiarizando.
Dirigindo a atenção para o nosso país, constatamos que, aqui, a violência se manifesta não em decorrência de conflitos religiosos ou raciais, mas de causas de vários ordens, dentre as quais destacamos as seguintes:
Lideranças que incutem normas violentas em movimentos reivindicatórios de melhorias de condições sociais -ou de isenção no aparelho produtivo nacional, no caso do campo. Note-se que tais lideranças apresentam, muitas vezes, fortes traços de ingênuas crenças em sistemas econômicos e políticos míticos, cujos fracassos de implantação são registrados pela história hodierna. Esses resultados adversos não os comovem nem chegam a ser por eles compreendidos;
violência urbana decorrente, principalmente, da desagregação familiar e de movimentos migratórios em direção aos grandes centros urbanos, criando grandes massas de manobra, manipuladas principalmente por conjuntos rivais de narcotraficantes;
elevadas taxas de desemprego.
Em maior ou menor escala, esses fenômenos ocorrem em todos os países do Terceiro Mundo, com o agravante de que, em alguns deles, registram-se também perturbações decorrentes de graves conflitos de ordem racial ou religiosa. É notório que estes não existem no Brasil, o que nos autoriza a afirmar que não temos terrorismo, ponto positivo a ser acentuado na política de atração de capitais estrangeiros para investimentos no país.
A manutenção da estabilidade político institucional do Brasil afigura-se-nos assegurada, pelas iniciativas do atual governo em matéria de política fiscal e constitucional. Além disso, a opção governamental pela manutenção da austeridade na condução da política orçamentária, fiscal e monetária fortalece a confiança do setor na atuação do poder público.
O esforço para a atração de investimentos do exterior apóia-se, ainda, na oferta da infra-estrutura energética e viária. Ocorre que tais setores apresentam-se também como eventuais destinos de novos investimentos, com resultados promissores de expansão nas próximas décadas.
Outros setores da infra-estrutura, tais como saneamento e transporte urbano de massa, carecem de inversões, constituindo-se, pois, em boas alternativas de aplicações.
Por fim, o mercado consumidor nacional tende a expandir-se em virtude do crescimento populacional e da tendência secular à melhoria da distribuição de renda.
Em resumo, apesar dos atuais impasses da economia nacional, pode-se afirmar que subsistem chances para bons investimentos no país.
O Brasil surge como um dos raros países de dimensões continentais que tem ingredientes indispensáveis para se transformar em economia dinâmica, pois possui sociologicamente uma tolerância étnico-religiosa inata, tem uma ambição de consumo e o desejo de melhora de padrão de vida como objetivos fundamentais e possui uma equidistância geográfica das zonas de conflito.


Miguel Colasuonno, 64, é economista. Foi prefeito do município de São Paulo (1972-74).


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