São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

O bolo vai crescer

RIO DE JANEIRO - "Prezados participantes da ciranda financeira, preparem-se para ganhar muito dinheiro, porque a ciranda vai rodar -e muito." No artigo de domingo passado, Antônio Ermírio de Moraes colocou esse comercial hipotético na boca do Banco Central, que recentemente anunciou nova elevação de juros.
Achando que era pouco, o BC quis tranqüilizar os especuladores, prometendo mais e melhor, garantindo uma nova série de aumentos na taxa de juros, esvaziando dessa forma os investimentos que criam desenvolvimento e empregos, mas beneficiando os agiotas internacionais com promessas de "garantir o futuro" por meio de aumentos seqüenciados.
O maior empresário brasileiro, que investe no trabalho e desdenha a ciranda promovida pelo governo, admite que os argumentos da equipe econômica são "sofisticados". Entendi essa sofisticação como coisa de primeiríssimo mundo, mantendo o Brasil como eterno país periférico.
"Eles (os técnicos do BC) procuram provar que o Brasil não pode crescer, porque isso instiga a inflação. (...) Não deixem a economia se aquecer. Aumentem os juros. Aniquilem os consumistas. Segurem os produtores". Cito um trecho do texto de Antônio Ermírio de Moraes. E acrescento uma reflexão que andou por aí logo após o governo ter anunciado um ligeiro alívio na economia nacional.
O consumo da população cresceu nos últimos meses, em taxas ainda ridículas, mas provocou ligeiro aumento na produção e nas ofertas de emprego, mas estando longe de acabar com um dos flagelos que mais estressam a vida do brasileiro comum, tanto o que está sem emprego como aquele que teme o desemprego.
Para gerar trabalho, é preciso investir, para investir, os empresários que priorizam a produção precisam do crédito com juros decentes, que fazem bem aos três elementos interessados: o governo, a empresa e o empregado. Juros altos são letais para o Brasil. Mas são fermento para a especulação da ciranda internacional.


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