São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Um desafio para os futuros prefeitos
EDUARDO MATARAZZO SUPLICY
Elimina-se a burocracia envolvida no processo necessário para que se conheça quanto cada um ganha no mercado formal e informal, a fim de que se saiba quem pode receber aquela renda; extingue-se qualquer sentimento de estigma que a pessoa possa carregar por precisar dizer "eu só recebo tanto, por isso devo receber tal complemento de renda"; do ponto de vista da dignidade e da liberdade do ser humano, será muito melhor para cada pessoa saber que nos próximos 12 meses, e daí pra frente a cada ano, ela e cada um na sua família receberão aquela renda como o direito de todos participarem da riqueza nacional. Da mesma maneira como tantos municípios estão hoje entrosados com o governo da União para instituir o Bolsa-Família -que neste mês de setembro atingirá 5 milhões de famílias e, até 2006, 11,2 milhões de famílias, correspondendo a quase 45 milhões de brasileiros-, será perfeitamente possível continuar esse entrosamento para, até 2008, transformar o Bolsa-Família em Renda Básica de Cidadania em todos os municípios e, assim, estendê-la a todos os brasileiros, inclusive aos estrangeiros residentes no Brasil há cinco anos ou mais, como estabelece a lei. Mas como será possível pagar à classe média e à classe alta uma renda básica, sendo que em todas as cidades ainda há tantas favelas e tanta carência? "Essa é uma proposta para ser implementada muito mais adiante, não agora, Eduardo", ponderou-me a prefeita Marta Suplicy, de São Paulo, justamente a cidade que tem o maior e mais generoso programa de renda mínima relacionado à educação, que no período de 2001 a 2004 já beneficiou 270 mil famílias. Quando se criar um sistema tributário adequado, que permita a todos os que têm mais contribuir para que eles próprios e todos os demais possam receber a renda básica, nós iremos de fato e com maior eficiência atingir toda a população e, portanto, indistintamente aos mais pobres, inclusive aos que hoje, morando nas ruas, estão sendo assassinados -os quais terão, quando a renda básica de cidadania estiver plenamente implementada, condições de sair das ruas. Importante é que cada responsável por seu município compreenda que a renda básica de cidadania é compatível com a maior competitividade da economia de sua cidade em relação às regiões onde não for implementada. Os estudiosos de transferências de renda têm apontado que as formas de crédito fiscal e Imposto de Renda negativo fazem as economias que as adotam se tornarem mais competitivas e geradoras de oportunidades de emprego. E têm concluído ainda que a forma mais racional é justamente a renda básica incondicional. Coloco-me à disposição de todos os prefeitos para ajudá-los nessa empreitada, que proporcionará maior dignidade e real liberdade a todos. Eduardo Matarazzo Suplicy, 63, doutor em economia pela Universidade Estadual de Michigan (EUA), senador pelo PT-SP, é professor da Eaesp-FGV. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Roberto Busato: Prerrogativas da cidadania Índice |
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