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O dia seguinte
A QUEDA de Andrés Soliz Rada do posto de ministro
dos Hidrocarbonetos da
Bolívia representa um alívio para
o Brasil. Soliz era um dos mais ferozes críticos da Petrobras. Idealizou a nacionalização do gás e do
petróleo e assinou, na semana
passada, a resolução ministerial
que transformava as refinarias
da empresa brasileira em meras
prestadoras de serviço da empresa estatal boliviana YPFB,
gesto que lhe custou o cargo.
O fato de Soliz ter sido mandado para casa faz presumir que as
autoridades brasileiras queixaram-se em termos veementes
com suas homólogas bolivianas,
o que já não era sem tempo. Mas
as boas notícias param aqui.
O substituto de Soliz é o mais
moderado Carlos Villegas. O novo ministro, porém, já assumiu
com uma retórica dura. Afirmou
que a Petrobras não "dobrará" a
Bolívia e que o país segue firme
na intenção de confiscar as receitas da empresa brasileira.
Tal atitude não surpreende. O
presidente Evo Morales foi eleito prometendo nacionalizar os
hidrocarbonetos. A popularidade de Soliz, cuja atuação era
aprovada por 46% dos bolivianos
-segundo pesquisa do instituto
Apoyo- devia-se principalmente a seu tom de confronto com a
Petrobras. Para uma parcela dos
bolivianos, o Brasil, muito mais
do que os EUA, é a nação "imperialista" que explora o país. O ex-ministro se foi, mas os fatores
que o levaram a agir como agiu
permanecem.
Cabe à Petrobras e às autoridades brasileiras manter a serenidade e negociar com o governo
boliviano com firmeza, mas sem
beligerância. Embora atue de
forma atabalhoada e se guie
principalmente por considerações populistas, a administração
de Evo Morales parece que vai se
dando conta de que a Bolívia precisa mais do Brasil do que o Brasil da Bolívia. A conferir nos próximos capítulos.
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