São Paulo, sexta-feira, 22 de setembro de 2006

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O dia seguinte

A QUEDA de Andrés Soliz Rada do posto de ministro dos Hidrocarbonetos da Bolívia representa um alívio para o Brasil. Soliz era um dos mais ferozes críticos da Petrobras. Idealizou a nacionalização do gás e do petróleo e assinou, na semana passada, a resolução ministerial que transformava as refinarias da empresa brasileira em meras prestadoras de serviço da empresa estatal boliviana YPFB, gesto que lhe custou o cargo.
O fato de Soliz ter sido mandado para casa faz presumir que as autoridades brasileiras queixaram-se em termos veementes com suas homólogas bolivianas, o que já não era sem tempo. Mas as boas notícias param aqui.
O substituto de Soliz é o mais moderado Carlos Villegas. O novo ministro, porém, já assumiu com uma retórica dura. Afirmou que a Petrobras não "dobrará" a Bolívia e que o país segue firme na intenção de confiscar as receitas da empresa brasileira.
Tal atitude não surpreende. O presidente Evo Morales foi eleito prometendo nacionalizar os hidrocarbonetos. A popularidade de Soliz, cuja atuação era aprovada por 46% dos bolivianos -segundo pesquisa do instituto Apoyo- devia-se principalmente a seu tom de confronto com a Petrobras. Para uma parcela dos bolivianos, o Brasil, muito mais do que os EUA, é a nação "imperialista" que explora o país. O ex-ministro se foi, mas os fatores que o levaram a agir como agiu permanecem.
Cabe à Petrobras e às autoridades brasileiras manter a serenidade e negociar com o governo boliviano com firmeza, mas sem beligerância. Embora atue de forma atabalhoada e se guie principalmente por considerações populistas, a administração de Evo Morales parece que vai se dando conta de que a Bolívia precisa mais do Brasil do que o Brasil da Bolívia. A conferir nos próximos capítulos.


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