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O Brasil tem a palavra
NUMA MOVIMENTAÇÃO surpreendente, os EUA deram um passo que pode
desembaraçar a Rodada Doha, as
negociações globais em torno da
liberalização comercial. Caberá
agora ao Brasil e a outras lideranças do chamado G20, o grupo de
países em desenvolvimento, dar
uma resposta à altura, que possa
levar a um entendimento.
Os EUA anunciaram que estão
dispostos a reduzir seus subsídios agrícolas para uma faixa entre US$ 12,8 bilhões e US$ 16,2
bilhões anuais. É uma mudança
de patamar importante. Até
aqui, Washington vinha falando
em cortar os subsídios para US$
22 bilhões. Os norte-americanos, entretanto, condicionaram
sua oferta a duas contrapartidas.
Eles querem que a União Européia (UE) baixe suas tarifas de
importação de bens agrícolas entre 52% e 53,5% e cobram dos
grandes países em desenvolvimento -Brasil incluso- uma redução substancial das taxas impostas aos bens industriais.
O primeiro ponto não parece
ser um problema. A UE, afinal, já
havia concordado em princípio
com um corte "superior a 50%".
No que diz respeito aos países
em desenvolvimento, a situação
pode tornar-se um pouco mais
difícil. Para ficar perto das exigências americanas, o Brasil precisaria reduzir as tarifas máximas que pode aplicar de uma
média de 31% para 11,5%.
O Brasil e o G20 devem agora
fazer a sua proposta. Como as tarifas efetivamente praticadas para importação de manufaturas
estão abaixo de 13% no Brasil, a
indústria local não será sacrificada nas negociações. E a abertura
dos mercados agrícolas dos EUA
e da UE será bastante positiva
para a agricultura brasileira.
O gesto americano, contudo,
não significa que um acordo esteja iminente. Há consideráveis
pressões políticas contra Doha.
No caso dos EUA, qualquer decisão do governo Bush precisará
ser sancionada por um Congresso hostil e protecionista.
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