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Enxurrada de dólares
Para conter o fluxo externo de moeda estrangeira, Brasil precisa criar condições fiscais para reduzir a taxa de juros aos patamares internacionais
Apesar das incertezas que ainda pairam sobre a economia mundial, cresce com rapidez o fluxo de
capitais para os países em desenvolvimento. O Brasil é um destinatário privilegiado: nos últimos 12
meses, os investimentos estrangeiros em renda fixa e Bolsa superam US$ 65 bilhões, um recorde
em anos recentes. Por causa dessa
enxurrada de dólares, o país experimenta um processo de forte valorização do real -uma ameaça
ao equilíbrio das contas externas.
As causas são globais. A mais
importante é a consolidação de
uma disparidade de crescimento
econômico entre países ricos e o
mundo em desenvolvimento. São
hoje os emergentes, Brasil entre
eles, os responsáveis pelo dinamismo e pelas oportunidades de
investimento mais atrativas.
EUA e Europa -onde se concentra grande parte da riqueza financeira do mundo- amargam
uma recuperação complicada,
lenta, insuficiente para reduzir o
desemprego. Não há dúvida de
que a taxa real de juro dessas economias permanecerá próxima de
zero por muito tempo, o que incentiva os investidores a buscar
opções fora de seus países.
É natural, portanto, que se observe uma persistente realocação
de capitais em favor dos países em
crescimento. Estima-se, por exemplo, que menos de 5% da carteira
dos grandes investidores institucionais europeus e americanos se
encontre alocada em títulos de nações emergentes, parcela que poderá subir para cerca de 20% nos
próximos anos.
É um movimento que agravará
as dificuldades de gestão para os
países receptores.
Como está em curso um processo de desvalorização do dólar e do
euro, em razão da crise, a pressão
pela valorização cambial afetará
quase todas as outras economias
-como tem ocorrido. Nesse quadro, ações isoladas em plano nacional podem amenizar, mas não
eliminarão o problema.
A maior parte dos países em desenvolvimento tenta administrar
a valorização de suas moedas por
meio de compras de dólares nos
mercados de câmbio. Valem-se
para isso das vultosas reservas internacionais que acumularam nos
últimos anos.
Mas há diferenças que precisam
ser ressaltadas. Algumas economias -em especial as asiáticas-
estão mais aparelhadas para acumular dólares, pois contam com
ampla poupança interna e juros
baixos. Não é o caso do Brasil, onde o custo de aumentar o volume
de reservas pode se tornar proibitivo. Sustentar US$ 250 bilhões
com uma diferença de juros nominais de 8% em relação aos ricos
(10,75% contra 2,5% nos EUA) já
onera o Tesouro em US$ 20 bilhões ao ano. Logo, os recursos
para adquirir dólares não são "ilimitados", e a autorização para o
Fundo Soberano comprá-los, como já se anunciou, não deverá alterar muito essa realidade.
Por outro lado, a opção de lavar
as mãos e não intervir é insustentável, pois tornaria ainda maior o
dano para a competitividade do
setor produtivo. Cabe ao governo
agir para minimizar as disparidades e o custo das intervenções
-por exemplo, desonerando as
exportações e o investimento.
É preciso que se criem logo condições fiscais para aproximar a taxa de juros interna dos padrões internacionais, levando-a para cerca de 2% ao ano, em termos reais,
ou seja, descontada a inflação.
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