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CLÓVIS ROSSI
O terceiro turno
SÃO PAULO - Para todos os efeitos práticos, já está começando o terceiro
turno, ou seja, o governo Luiz Inácio
Lula da Silva.
Exceto José Serra e um ou outro de
seus incondicionais, ninguém mais
acredita numa reversão da enorme
vantagem que o candidato do PT obteve no primeiro turno e que só fez
ampliar-se depois.
No mercado, pelo que a Folha ouviu nos dias mais recentes, a lógica é
mais ou menos assim: se o Lula já está eleito, mas só começa a governar
no dia 1º de janeiro (se a data de posse não for alterada), o que podemos
cobrar dele?
Resposta -de resto óbvia: nomes.
E nomes bem específicos: o do ministro da Fazenda e o do presidente do
Banco Central (há quem diga que este é mais importante do que aquele,
embora seja da alçada do ministro
nomear e demitir o presidente do BC,
e não o inverso).
O plano original do PT era (ou é
ainda) o de não anunciar um ministério em fatias. Os nomes sairiam todos juntos, até para não dar a impressão de que Lula considera a área
econômica mais importante do que
as demais (em especial a social).
Mas os cardeais do PT já vinham
avisando, faz tempo, que poderiam,
sim, pensar em antecipar nomes para
a área econômica se houvesse um, digamos, terremoto.
Do meu ponto de vista, o terremoto
já houve. O dólar no patamar em que
está, o risco-país roçando os 2.000
pontos, os juros internos elevados de
indecentes 18% para obscenos 21%
-se tudo isso, mais a anêmica atividade econômica, não caracteriza terremoto, o que é terremoto?
Nada disso é culpa do PT, como é
óbvio, mas a "rationale" do mercado
é que, agora, o PT já é governo, ainda
que só venha a assumir em mais dois
meses e pico. Posto de outra forma: a
herança legada por FHC já é parte do
patrimônio petista.
Resta saber se o PT se curvará à lógica dos mercados, como tem feito seguidamente, ou se preferirá seguir a
sua própria dinâmica. Não é uma decisão crucial, mas já dará pistas sobre
o governo Lula.
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