São Paulo, terça-feira, 22 de outubro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

O terceiro turno

SÃO PAULO - Para todos os efeitos práticos, já está começando o terceiro turno, ou seja, o governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Exceto José Serra e um ou outro de seus incondicionais, ninguém mais acredita numa reversão da enorme vantagem que o candidato do PT obteve no primeiro turno e que só fez ampliar-se depois.
No mercado, pelo que a Folha ouviu nos dias mais recentes, a lógica é mais ou menos assim: se o Lula já está eleito, mas só começa a governar no dia 1º de janeiro (se a data de posse não for alterada), o que podemos cobrar dele?
Resposta -de resto óbvia: nomes. E nomes bem específicos: o do ministro da Fazenda e o do presidente do Banco Central (há quem diga que este é mais importante do que aquele, embora seja da alçada do ministro nomear e demitir o presidente do BC, e não o inverso).
O plano original do PT era (ou é ainda) o de não anunciar um ministério em fatias. Os nomes sairiam todos juntos, até para não dar a impressão de que Lula considera a área econômica mais importante do que as demais (em especial a social).
Mas os cardeais do PT já vinham avisando, faz tempo, que poderiam, sim, pensar em antecipar nomes para a área econômica se houvesse um, digamos, terremoto.
Do meu ponto de vista, o terremoto já houve. O dólar no patamar em que está, o risco-país roçando os 2.000 pontos, os juros internos elevados de indecentes 18% para obscenos 21% -se tudo isso, mais a anêmica atividade econômica, não caracteriza terremoto, o que é terremoto?
Nada disso é culpa do PT, como é óbvio, mas a "rationale" do mercado é que, agora, o PT já é governo, ainda que só venha a assumir em mais dois meses e pico. Posto de outra forma: a herança legada por FHC já é parte do patrimônio petista.
Resta saber se o PT se curvará à lógica dos mercados, como tem feito seguidamente, ou se preferirá seguir a sua própria dinâmica. Não é uma decisão crucial, mas já dará pistas sobre o governo Lula.


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