São Paulo, terça-feira, 22 de outubro de 2002

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GUERRA URBANA

São preocupantes as notícias de que os combates entre forças do governo colombiano e das guerrilhas vêm adquirindo um caráter cada vez mais urbano. A guerra civil no país já tem 40 anos, e, até alguns meses atrás, os enfrentamentos se davam quase exclusivamente em zonas rurais. O deslocamento dos conflitos para as cidades se explica em parte pela nova política do recém-empossado presidente, o conservador Álvaro Uribe, de combater as guerrilhas com "mão firme".
Uribe precisa mesmo enfrentar os insurretos. Essa foi a bandeira com a qual ele foi eleito pela população. Infelizmente, as tentativas de diálogo levadas a cabo pelo governo anterior, o de Andrés Pastrana (1998-2002), fracassaram -principalmente por culpa das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que não tiveram a maturidade necessária para abandonar o foquismo e converter-se num partido político.
Mas a estratégia de Uribe de dar pesado combate às guerrilhas não é isenta de riscos. A questão é complexa. A maioria dos analistas não vê chances de o governo derrotar militarmente as Farc ou o ELN (Exército de Libertação Nacional). Durante 30 anos, o país viveu sob estado de sítio mais ou menos ininterrupto sem que as forças do Estado tivessem conseguido acabar com os principais grupos insurretos. No futuro, a paz quase certamente passará por um entendimento entre governo e guerrilhas. Nesse sentido, é importante que a administração Uribe evite a guerra total e preserve alguns canais de comunicação com seus oponentes.
O governo precisa, sim, enfrentar a guerrilha, que infelizmente parece ter apostado numa estratégia de confronto e terror, mas precisa também evitar as armadilhas de um conflito prolongado e selvagem. Uribe precisará, por exemplo, cuidar para que suas forças respeitem direitos humanos e estar sempre pronto a voltar à mesa de negociações caso a guerrilha se mostre disposta a discutir seriamente a paz.


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