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GUERRA URBANA
São preocupantes as notícias
de que os combates entre forças
do governo colombiano e das guerrilhas vêm adquirindo um caráter cada
vez mais urbano. A guerra civil no
país já tem 40 anos, e, até alguns meses atrás, os enfrentamentos se davam quase exclusivamente em zonas
rurais. O deslocamento dos conflitos
para as cidades se explica em parte
pela nova política do recém-empossado presidente, o conservador Álvaro Uribe, de combater as guerrilhas
com "mão firme".
Uribe precisa mesmo enfrentar os
insurretos. Essa foi a bandeira com a
qual ele foi eleito pela população. Infelizmente, as tentativas de diálogo
levadas a cabo pelo governo anterior,
o de Andrés Pastrana (1998-2002),
fracassaram -principalmente por
culpa das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que não
tiveram a maturidade necessária para
abandonar o foquismo e converter-se num partido político.
Mas a estratégia de Uribe de dar pesado combate às guerrilhas não é
isenta de riscos. A questão é complexa. A maioria dos analistas não vê
chances de o governo derrotar militarmente as Farc ou o ELN (Exército
de Libertação Nacional). Durante 30
anos, o país viveu sob estado de sítio
mais ou menos ininterrupto sem que
as forças do Estado tivessem conseguido acabar com os principais grupos insurretos. No futuro, a paz quase certamente passará por um entendimento entre governo e guerrilhas.
Nesse sentido, é importante que a
administração Uribe evite a guerra
total e preserve alguns canais de comunicação com seus oponentes.
O governo precisa, sim, enfrentar a
guerrilha, que infelizmente parece
ter apostado numa estratégia de confronto e terror, mas precisa também
evitar as armadilhas de um conflito
prolongado e selvagem. Uribe precisará, por exemplo, cuidar para que
suas forças respeitem direitos humanos e estar sempre pronto a voltar à
mesa de negociações caso a guerrilha se mostre disposta a discutir seriamente a paz.
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