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São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 2003

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A JABUTICABA DOS JUROS

A jabuticaba tem sido frequentemente utilizada como metáfora por governantes, economistas e políticos sempre que se trata de caracterizar algo que só existe no Brasil. Não há dúvida de que o patamar dos juros na economia brasileira merece essa imagem. Diferentemente do que ocorre em outros países do mesmo padrão, no Brasil, os juros, ainda que a inflação se mostre sob controle, estão sempre muitos andares acima. O economista Pérsio Arida, um dos mentores do Plano Real, tem chamado a atenção para a necessidade de aprofundar o entendimento desse fenômeno. Ele afirma que, se o país não resolver o problema dos juros, poderá obter êxito no controle da inflação, mas estará condenado ao baixo crescimento.
As explicações aventadas para juros estruturalmente tão altos vão desde os supostos riscos da economia até a idéia de que o país estaria "viciado" em taxas elevadas ainda em decorrência da cultura dos tempos inflacionários, como já sugeriu o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola. Menciona-se também a necessidade de maior liberalização trabalhista, a plena conversibilidade do real (como quer Arida) e a importância de criar condições para gerar taxas de juros de longo prazo.
No entanto para outros analistas, como o ex-ministro Bresser Pereira, a redução dos juros esbarraria no mercado financeiro, que, a partir de um certo nível de queda da taxa básica, passa "a ameaçar com o não-financiamento da dívida pública" ao mesmo tempo em que a depreciação cambial volta a acelerar a inflação.
Enquanto os economistas não chegam a uma conclusão sobre a jabuticaba dos juros, prevê-se que o BC vá cortar hoje a taxa Selic dos atuais 20% para 19% ou 18,5%. Com isso, chega-se mais perto do nível que o mercado financeiro apregoa como sustentável. Ele estaria em torno de uma taxa Selic -descontada a inflação- de 10% a 8%. Como a inflação prevista para os próximos 12 meses é de 6,5%, e como projeta-se uma redução da Selic para 17% até dezembro, a trajetória de queda parece próxima do fim. Em outras palavras, caso prevaleçam os dogmas do mercado financeiro, lamentavelmente a perspectiva é de que, embora cadentes, os juros ainda permaneçam altos para os tomadores de crédito.


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