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A JABUTICABA DOS JUROS
A jabuticaba tem sido frequentemente utilizada como
metáfora por governantes, economistas e políticos sempre que se trata
de caracterizar algo que só existe no
Brasil. Não há dúvida de que o patamar dos juros na economia brasileira
merece essa imagem. Diferentemente do que ocorre em outros países do
mesmo padrão, no Brasil, os juros,
ainda que a inflação se mostre sob
controle, estão sempre muitos andares acima. O economista Pérsio Arida, um dos mentores do Plano Real,
tem chamado a atenção para a necessidade de aprofundar o entendimento desse fenômeno. Ele afirma que,
se o país não resolver o problema dos
juros, poderá obter êxito no controle
da inflação, mas estará condenado
ao baixo crescimento.
As explicações aventadas para juros
estruturalmente tão altos vão desde
os supostos riscos da economia até a
idéia de que o país estaria "viciado"
em taxas elevadas ainda em decorrência da cultura dos tempos inflacionários, como já sugeriu o ex-presidente do Banco Central Gustavo
Loyola. Menciona-se também a necessidade de maior liberalização trabalhista, a plena conversibilidade do
real (como quer Arida) e a importância de criar condições para gerar taxas de juros de longo prazo.
No entanto para outros analistas,
como o ex-ministro Bresser Pereira,
a redução dos juros esbarraria no
mercado financeiro, que, a partir de
um certo nível de queda da taxa básica, passa "a ameaçar com o não-financiamento da dívida pública" ao
mesmo tempo em que a depreciação
cambial volta a acelerar a inflação.
Enquanto os economistas não chegam a uma conclusão sobre a jabuticaba dos juros, prevê-se que o BC vá
cortar hoje a taxa Selic dos atuais
20% para 19% ou 18,5%. Com isso,
chega-se mais perto do nível que o
mercado financeiro apregoa como
sustentável. Ele estaria em torno de
uma taxa Selic -descontada a inflação- de 10% a 8%. Como a inflação
prevista para os próximos 12 meses é
de 6,5%, e como projeta-se uma redução da Selic para 17% até dezembro, a trajetória de queda parece próxima do fim. Em outras palavras, caso prevaleçam os dogmas do mercado financeiro, lamentavelmente a
perspectiva é de que, embora cadentes, os juros ainda permaneçam altos
para os tomadores de crédito.
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