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JOSÉ SARNEY
Onde a
besta morreu
A semana termina cheia de notícias: os juros, na sua trajetória de
gangorra do sobe-e-desce, depois de
descerem, agora sobem; a Fórmula 1,
que, para o meu gosto, é uma das coisas mais monótonas e chatas do mundo, faz sua última corrida do ano em
Interlagos; Schumacher chega de mau
humor e, questionado sobre "se gosta
do Brasil", responde de cara feia:
"Adoro o Brasil, mas prefiro quando
posso ficar em paz no quarto". E um
prefeito do interior de São Paulo,
quando lhe cobram programas de cultura, responde convicto: "A cultura
pode esperar, é algo que se pode definir como um pepino"; as eleições municipais chegam na reta final do segundo turno e as batidas cardíacas dos
candidatos e aderentes aumentam
com a chegada do dia D e com as pesquisas de opinião pública, que neste
ano sofreram muitas contestações e
mudanças de metodologia.
Mas, com tudo isso, se pode comemorar quando a Câmara Brasileira do
Livro anuncia que as livrarias e editoras do Brasil movimentaram, em
2003, R$ 3,3 bilhões e produziram 299
milhões de livros e que neste ano houve um crescimento de 30%. Contudo
somente um terço da população alfabetizada do Brasil chega ao livro, num
critério bem generoso de ter lido um
livro nos últimos três meses.
Eu escolhi como meu tema parlamentar a cultura, e há 30 anos apresento projetos e falo sobre o problema
cultural. Tenho a convicção de que o
Brasil só será uma potência econômica se for uma potência cultural. Com o
maior desrespeito à opinião do prefeito do interior de São Paulo, se há uma
coisa que não podemos esperar é mudar a face cultural do Brasil com a
maior rapidez, para que não tenhamos outros administradores públicos
dizendo o que disse o prefeito e para
não termos prefeitos assim.
Apresentei e aprovei no Congresso o
Estatuto Nacional do Livro, com a colaboração da Câmara Brasileira do Livro, da Biblioteca Nacional e de outras
entidades envolvidas no problema.
Dizia-se que o livro iria acabar devido
às modernas descobertas da era da comunicação eletrônica. O que estamos
vendo é que as novas técnicas estão
barateando a produção de livros, que
está aumentando.
Quanto aos juros, esse é um assunto
do José Alencar em que não desejo
mais interferir, porque o fiz uma vez e
me arrependo, não só pelo que disse
como pelo puxão de orelha que levei
de minha mulher.
Já o Schumacher, é compreensível
que ele goste mais de quarto do que do
Brasil. Com a velocidade em que ele
anda, não vê nada, nem os milhões de
bobocas que o vêem com aquela zoada de motor cujo som não muda de
tom e tem sempre os mesmos vencedores. Prefiro corrida de cavalo ou de
macaco.
Quanto às eleições, elas transcorreram tranqüilas, entre delicadezas de
insultos e denúncias, sempre lastreadas em algum artigo do Código Penal
de injúria e difamação. Mas, como são
dos dois lados, noves fora, zero. Estão
reclamando muito dos marqueteiros,
que neste ano dão mais entrevistas
que os candidatos e aumentaram os
preços além da inflação acumulada
desde o início do Plano Real.
No mais vamos ficar rezando para
que o Kerry consiga ganhar e que a
Flórida aceite as urnas que o ministro
José Paulo Pertence está oferecendo
-à prova de fraude, coisa impossível
de não acontecer no estado de tão belas praias e tão vigorosos furacões. Foi
onde Bush elegeu-se.
Termino com um ditado do Nordeste: Procure-se o chocalho da besta onde a besta morreu".
José Sarney escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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