São Paulo, sexta-feira, 22 de outubro de 2004

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NELSON MOTTA

Som na caixa (registradora)

RIO DE JANEIRO - A música popular do Brasil é uma das melhores do mundo. Certamente é nosso melhor produto de exportação, é diversificada, bem acabada, competitiva nos mercados mais exigentes. Internamente, abocanha 80% do mercado de discos, não precisa de proteção.
Agora, músicos e autores, muito bem intencionados, pedem uma agência reguladora para a música. Como as do petróleo, da energia e da telefonia.
Como a música brasileira é tão boa, tão forte e tão livre, o que mais precisa é que não a atrapalhem e que não criem restrições ou cobrem mais impostos. Se não pagasse a enormidade de impostos embutidos no custo final, o disco poderia ser muito mais barato, poderia concorrer em melhores condições com a pirataria.
Uma grande ajuda à produção musical no Brasil seria reduzir a carga tributária sobre equipamentos de som e computadores (por onde passa toda a produção, mesmo acústica), que pagam uma alíquota de importação maior do que comida de gato graças à desastrosa reserva de mercado, que nos deixou para trás na corrida digital. Os equipamentos são muito piores que os estrangeiros e muito mais caros.
Todos reclamam com razão da pirataria de discos, mas certamente a maior parte dos programas que rodam nos computadores dos estúdios são piratas (os impostos são proibitivos) e uma boa parte dos computadores é contrabandeada.
O Estado já come uma boa parte do que a indústria da música e os músicos produzem. Mas será que a música precisa de uma agência?
Talvez, desde que não seja para criar regras, fiscalizações e punições. Nem para que burocratas decidam quem pode fazer o quê ou o que é melhor para produtores e consumidores. Nem para torrar dinheiro público ou cobrar mais impostos.
Fora isso, como dizia Tim Maia, o resto vale.


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