São Paulo, segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Próximo Texto | Índice

Petróleo nas alturas

Fatores da economia real e das finanças fazem a cotação do produto disparar, mas estragos são pequenos até agora

DE 1998 para cá, o preço do petróleo foi multiplicado por sete. A procura pelo produto, com o vigoroso crescimento mundial, aproximou-se da capacidade de produção. Segundo a OCDE (clube dos 30 países mais ricos), a demanda global diária deverá atingir 85,7 milhões de barris em 2007, contra oferta pouco menor (85,1 milhões).
O surto na procura pela commodity, em contraste com a baixa capacidade de expansão rápida da oferta -dados os longos períodos de maturação dos investimentos nessa atividade-, é uma explicação para a tendência de alta nos mercados de petróleo. Mas não é a única.
O efeito na cotação do combustível exercido pela demanda superaquecida foi potencializado por uma combinação de fatores conjunturais, de ordem financeira. Grandes investidores passaram a comprar petróleo para se proteger da desvalorização do dólar no mercado internacional.
Em 2007, a moeda americana já perdeu 8% do seu valor ante o euro. As preocupações com as reservas de petróleo dos EUA -os estoques estão 4% abaixo do nível registrado no mesmo período do ano passado- também fomentaram as compras. Finalmente, o temor sobre a ampliação de conflitos no Oriente Médio, diante da ameaça turca de invadir o Iraque à cata de rebeldes curdos e das escaramuças entre potências ocidentais e o Irã, realimentou a alta do óleo.
O preço do barril voltou a bater recordes. Em Nova York, a cotação roçou os US$ 90, com valorização de 10% só em outubro. Ampliaram-se os temores de o barril ultrapassar US$ 100, aproximando-se da cotação máxima em termos reais (considerando a inflação americana), atingida em abril de 1980 -com a revolução xiita no Irã e o início da guerra entre este país e o Iraque.
À diferença daquele período, a repercussão da alta do petróleo na economia e na inflação do mundo tem sido menor. A fim de explicar o contraste, invocam-se fatos como as tecnologias que hoje permitem o uso muito mais eficiente do combustível.
Se for mantida como tendência, contudo, a elevação acentuada nos preços da energia poderá contaminar a expectativa de crescimento mundial -já influenciada negativamente pela crise no mercado imobiliário dos EUA. Nesse caso, o Brasil, onde o impacto das altas nas cotações globais tem sido mitigado pela valorização do real, dificilmente deixaria de ser afetado.

Próximo Texto: Editoriais: Médicos togados

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.