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Petróleo nas alturas
Fatores da economia real e das finanças fazem a cotação do produto disparar, mas estragos são pequenos até agora
DE 1998 para cá, o preço
do petróleo foi multiplicado por sete. A procura pelo produto,
com o vigoroso crescimento
mundial, aproximou-se da capacidade de produção. Segundo a
OCDE (clube dos 30 países mais
ricos), a demanda global diária
deverá atingir
85,7 milhões de
barris em 2007,
contra oferta
pouco menor
(85,1 milhões).
O surto na procura pela commodity, em contraste com a baixa capacidade de
expansão rápida
da oferta -dados
os longos períodos de maturação dos investimentos nessa
atividade-, é
uma explicação para a tendência
de alta nos mercados de petróleo. Mas não é a única.
O efeito na cotação do combustível exercido pela demanda superaquecida foi potencializado
por uma combinação de fatores
conjunturais, de ordem financeira. Grandes investidores passaram a comprar petróleo para se
proteger da desvalorização do
dólar no mercado internacional.
Em 2007, a moeda americana
já perdeu 8% do seu valor ante o
euro. As preocupações com as reservas de petróleo dos EUA -os
estoques estão 4% abaixo do nível registrado no mesmo período
do ano passado- também fomentaram as compras. Finalmente, o temor sobre a ampliação de conflitos no Oriente Médio, diante da ameaça turca de
invadir o Iraque à cata de rebeldes curdos e das escaramuças
entre potências ocidentais e o
Irã, realimentou a alta do óleo.
O preço do barril voltou a bater
recordes. Em Nova York, a cotação roçou os US$ 90, com valorização de 10% só em outubro.
Ampliaram-se os temores de o
barril ultrapassar US$ 100, aproximando-se da cotação máxima
em termos reais
(considerando a
inflação americana), atingida em
abril de 1980
-com a revolução xiita no Irã e o
início da guerra
entre este país e o
Iraque.
À diferença daquele período, a
repercussão da
alta do petróleo
na economia e na
inflação do mundo tem sido menor. A fim de explicar o contraste, invocam-se
fatos como as tecnologias que
hoje permitem o uso muito mais
eficiente do combustível.
Se for mantida como tendência, contudo, a elevação acentuada nos preços da energia poderá
contaminar a expectativa de
crescimento mundial -já influenciada negativamente pela
crise no mercado imobiliário dos
EUA. Nesse caso, o Brasil, onde o
impacto das altas nas cotações
globais tem sido mitigado pela
valorização do real, dificilmente
deixaria de ser afetado.
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