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Editoriais
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O acordo PT-PMDB
Compromisso entre os partidos para 2010 indica força do lulismo, apesar da dianteira da oposição nas pesquisas eleitorais
FOI SELADO na noite de anteontem, em jantar oferecido pelo presidente Lula
no Palácio da Alvorada, o
pré-compromisso entre PT e
PMDB visando às eleições de
2010. Nos termos do que foi conversado, além da coligação formal entre as legendas, o partido
representado pelo presidente da
Câmara, Michel Temer (SP), deverá ficar com a vaga de vice na
chapa da situação.
Um banquete apenas, é óbvio,
não vai aplacar o tradicional apetite do PMDB. O partido deixou
claro que ainda espera concessões do PT em Estados importantes. Também pleiteia participação na coordenação da campanha e do programa de governo da
provável candidata, a ministra da
Casa Civil, Dilma Rousseff.
O acordo se faz num quadro
ainda de indefinição política. Se,
por um lado, a pré-aliança exprime a inegável força do lulismo,
por outro não deixa de ser também sintoma de desconforto da
candidata governista, cujas pretensões se veem ameaçadas pela
pré-candidatura de Ciro Gomes
(PSB). O ex-ministro, hoje deputado, surge empatado com Dilma
em pesquisas recentes.
Tampouco se pode desconsiderar que, em todas as sondagens feitas até aqui, o governador
paulista, José Serra (PSDB), tem
aparecido na liderança da disputa -e com folga, mesmo sem admitir sua candidatura.
A despeito disso, ninguém desconhece o peso político do
PMDB. O principal sócio do
atual governo hoje comanda seis
ministérios e nove Estados da federação; tem a maior bancada da
Câmara (92 deputados) e do Senado (17 senadores), além de
presidir as duas Casas do Legislativo; elegeu ainda 1.202 prefeitos em 2008, o que representa
cerca de 20% das cidades brasileiras. Mais importante do que
tudo isso, estima-se que o tempo
de campanha de TV de Dilma
vá dobrar se a pré-aliança for
oficializada.
O gigantismo do maior partido
brasileiro, porém, tem muito de
enganoso. Parte expressiva do
partido, como é sabido, não seguirá o acordo com o PT e tende a
apoiar, à revelia da orientação
nacional, o candidato da oposição. Numa praça como São Paulo, por exemplo, deve ser este o
caminho de Orestes Quércia.
É difícil, por isso, mensurar os
efeitos práticos da adesão do
PMDB a Dilma. São bastante reveladoras, nesse sentido, as palavras de Ciro Gomes a respeito do
acordo: "Só espero que o PMDB
entregue o que está prometendo.
Espero também que os termos
da aliança sejam confessáveis".
Sobre este último tópico da fala do deputado, que alude a considerações de ordem moral, nem
seria preciso explicitar nada verbalmente. Os fatos falam por si.
Não há ideias, tampouco projetos comuns norteando o casamento de Lula com o PMDB, sobretudo no segundo mandato.
Em nome da preservação do
poder em termos confortáveis
para ambos os lados, pautando
sua conduta pelo pragmatismo
mais desabrido, o presidente
vem patrocinando o que há de
pior e mais atrasado nos costumes políticos brasileiros. O
PMDB tem sido parceiro e beneficiário graúdo dessa cultura. Nada indica, por ora, que com Dilma as coisas seriam diferentes.
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