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CLÓVIS ROSSI
Da metamorfose à rendição
SÃO PAULO - Que Luiz Inácio Lula da Silva foi, a partir de sua vitória
de 2002, uma "metamorfose ambulante", nem precisava que ele próprio o dissesse.
Os fatos falavam alto e claro.
O triste, como revela a entrevista
que ele concedeu a Kennedy Alencar desta Folha, é que Lula passou
da metamorfose à rendição a uma
realidade política horrorosa.
Disse Lula: "Qualquer um que ganhar as eleições, pode ser o maior
xiita deste país ou o maior direitista, ele não conseguirá montar o governo fora da realidade política.
Entre o que se quer e o que se pode
fazer tem uma diferença do tamanho do oceano Atlântico. Quem ganhar a Presidência amanhã, terá de
fazer quase a mesma composição,
porque este é o espectro político
brasileiro".
O presidente ainda acrescentou:
"Se Jesus Cristo viesse para cá, e
Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar
Judas para fazer coalizão".
Se Frei Betto, o confessor ou ex-confessor de Lula, tivesse ensinado
seu amigo direitinho, o presidente
aprenderia que Cristo foi crucificado justamente porque não fez coalizão com os judas da vida.
Que Lula tivesse obsessão com a
governabilidade até dá para entender. Que desista de ao menos tentar
reformar a "realidade política" é
um irremediável desastre.
Só para qualificar o que é essa
realidade: a Fundação Konrad Adenauer, ligada à democracia-cristã
alemã, divulgou há dez dias o índice
de desenvolvimento político da
América Latina. O Brasil consegue
a proeza de ficar só no 8º lugar entre os 18 países listados. E estamos
falando de América Latina, que é
essa mixórdia arquiconhecida.
Tudo somado, dá para entender
por que o presidente prefere que a
imprensa não fiscalize o poder,
apenas informe. Lula e seu partido
trocaram a fiscalização do tempo
de oposição pelo gozo do poder
uma vez nele instalados.
crossi@uol.com.br
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