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Descontrole
Em episódios lamentáveis, ativistas elevam o grau de exacerbação da campanha, enquanto Lula faz ironias e acusações impróprias
Os incidentes ocorridos nesta
quarta-feira, durante caminhada
do candidato José Serra (PSDB) no
Rio de Janeiro, e com a candidata
Dilma Rousseff, do PT, ao desfilar
ontem em carro aberto em Curitiba, constituem sinais de que a
campanha eleitoral ameaça atingir um novo grau de exacerbação.
Não houve maiores consequências, felizmente, nos dois episódios. Serra foi atingido, sem ferir-se, por um objeto na cabeça, ao
passo que um balão de água foi jogado sobre o capô do automóvel
que transportava Dilma. É todavia
preocupante uma situação na
qual candidatos se vejam ameaçados em sua integridade física ao
circularem pelas ruas e buscarem
contato com o eleitor.
Antes mesmo que um arremesso alcançasse o candidato do
PSDB, militantes de seu partido e
ativistas do PT entraram em conflito. Um candidato derrotado a
deputado estadual pelo PT, ao lado de um sindicalista da área de
saúde, chamava Serra de "assassino", supostamente por discordar
de sua política de combate a endemias; cabos eleitorais tucanos rasgaram cartazes; petistas avançaram; o tumulto terminou envolvendo cerca de cem pessoas.
Ganha configuração real, assim, um processo que, no mundo
virtual e midiático, já ocorria de
forma desenfreada. A violência
simbólica -organizada em máquinas de rumores, insultos, panfletos e imagens a serviço dos dois
candidatos- atingiu na atual
campanha presidencial um nível
de exaltação poucas vezes registrado no país.
O mais curioso, nesse fenômeno, é que as paixões políticas não
parecem encontrar, no perfil das
duas candidaturas à Presidência
da República, razões suficientes
para se desencadearem com tal vigor. Entre Dilma e Serra, há provavelmente mais áreas de concordância do que pontos de genuíno
conflito programático.
Adeptos de uma e outra candidatura projetam, sobre ambas,
um conteúdo ideológico que, no
plano das alianças e compromissos reais, nenhuma delas se dispõe a explicitar, nem dá mostras
de possuir. Descolados da realidade, ou movidos pela conveniência
pessoal mais mesquinha, militantes e cabos eleitorais se entregam
a uma cruzada de intimidação e
truculência.
A esse tipo de comportamento,
o presidente Lula deu um indireto
estímulo. Enquanto a candidata
Dilma Rousseff repudiou formalmente a agressão cometida contra
José Serra, o presidente da República saiu-se, bem a seu estilo,
com acusações e tiradas de humor
primitivo, que mais caberiam a
um arruaceiro presente no episódio do que a alguém imbuído das
responsabilidades de seu cargo.
Não é novidade esse tipo de
comportamento; a novidade é
que, com esse gênero de exemplo,
seus correligionários dão mostras
de se sentirem autorizados para
superar, em grosseria e descontrole, as lições do mestre.
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