|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Superbactéria
Há algum exagero na dimensão
que o noticiário em torno da "superbactéria" está ganhando.
Médicos intensivistas brasileiros
convivem com variedades de
Klebsiella resistentes a antibióticos já há vários anos.
Essa, aliás, não é a única ameaça nesse quesito. Também rondam nossas UTIs outros representantes de floras patogênicas super-resistentes, difíceis de diagnosticar e tratar.
O processo pelo qual micro-organismos desenvolvem resistência é complexo. Começa na comunidade, com o uso pouco criterioso dos antibióticos (inclusive
quando receitados por médicos),
passa pelos hospitais superlotados, onde descuidos na antissepsia se somam a fatalidades biológicas, e pode eventualmente voltar para a comunidade.
Ao tomar um antibiótico mal
prescrito, o paciente acaba selecionando linhagens de bactérias
com maior resistência natural à
droga. Como as infecções típicas
da comunidade não são muito
graves -boa parte delas se cura
mesmo sem remédios-, o fenômeno tende a passar relativamente despercebido.
Um dia, entretanto, esse paciente vai parar no hospital, onde
deixa exemplares de sua flora
mais resistente. Além das mutações, bactérias, mesmo não aparentadas, têm a capacidade de trocar entre si fragmentos de DNA
(plasmídeos), inclusive os genes
responsáveis pela resistência. É
nesse ambiente que se formam as
superbactérias.
Embora seja um processo lento
e ainda pouco conhecido, essas linhagens super-resistentes podem
voltar para a comunidade. Médicos generalistas brasileiros já têm
de lidar com casos de tuberculose
e gonorreia bem mais difíceis de
tratar do que no passado. As doses
de medicamentos usadas para debelar várias infecções comuns
também tiveram de ser aumentadas ao longo do tempo.
O surgimento de resistência a
antibióticos é um fenômeno previsto pela biologia, mais especificamente pela teoria da seleção natural. É algo que deve preocupar
cientistas, médicos e autoridades
sanitárias, mas é bastante improvável que as variedades atualmente em circulação assumam
proporções epidêmicas da noite
para o dia. Não há, portanto, razão
para preocupações exageradas.
Texto Anterior: Editoriais: Descontrole Próximo Texto: São Paulo - Fernando de Barros e Silva: Michel Temer: tanto faz Índice | Comunicar Erros
|